Os métodos truculentos e ilegais da direita

O método de trabalho usado pelos oposicionistas da CPI dos Bingos, também conhecida no meio político como “CPI do Fim do Mundo”, não é novo para a direita brasileira. Ela extrapola ilegalmente as atribuições para que foi criada, e inventa pretextos para cumprir o objetivo da oposição de direita de atingir o presidente Lula e comprometê-lo com alegadas irregularidades que possam justificar a perda de seu mandato ou enlamear seu nome para enfraquecê-lo como candidato na eleição de outubro. Com isso, aquela CPI se transformou num arremedo da “República do Galeão”, sobrepondo-se à lei e à margem da Constituição ao atuar fora das finalidades para as quais foi instalada.

 

A direita brasileira não se renova, e repete os mesmos métodos truculentos e ilegais que sempre usou para manter-se no poder, ou para afastar dele forças democráticas, patriotas, nacionalistas e populares que representem quaisquer ameaças a seus interesses e à continuidade de seu domínio.

 

A direita repete, hoje, o mesmo roteiro que seguiu em outras situações históricas, como as campanhas que promoveu no passado contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e mesmo o curto mandato de Itamar Franco, na década de 1990.

 

O fantasma que sempre assustou os conservadores brasileiros foi Getúlio Vargas, político execrado pela direita por representar a tentativa mais consistente, na história, de busca de um projeto nacional de desenvolvimento. Ele enfrentou a oposição direitista desde 1930; ela pegou em armas em 1932, uniu-se para tirá-lo do poder em 1945, conspirou para que não assumisse a presidência da República quando foi eleito em 1950, e promoveu uma das mais sujas campanhas pela imprensa desde sua posse, em 1951, culminando com o suicídio do presidente, em 24 de agosto de 1954.

 

Foi uma campanha exemplar, que deixou lições sobre o comportamento dessa oposição que não hesita em agir à margem da lei e usar mentiras e subterfúgios para alcançar seus objetivos. Ela uniu os mesmos personagens que, hoje, juntam-se em barricadas imaginárias contra o governo do presidente Lula, naquela época representados pela União Democrática Nacional (UDN), o partido da oligarquia financeira e da grande imprensa, os militares de direita que eram movidos por um sentimento antipopular traduzido num anticomunismo primário, os aliados e representantes dos grupos estrangeiros que tinham interesses no Brasil, e mesmo agentes da embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Era a santa aliança conservadora, que juntava a oligarquia brasileira e representantes do imperialismo na resistência contra um governo que acenava com uma efetiva, embora limitada, democratização e com a defesa dos interesses nacionais.

 

Foi uma guerra sem quartel. As acusações contra Vargas cresceram em 1954, marcadas entre outras coisas pelo Manifesto dos Coronéis contra o aumento do salário mínimo, pela reação contra a denúncia feita por Vargas da remessa de lucros das empresas estrangeiras instaladas no Brasil, pela lei de sindicalização rural que alarmou os latifundiários. Mas a campanha tomou a forma de acusações de corrupção, sob a alegação de que o Banco do Brasil teria financiado irregularmente o jornal Última Hora, cuja defesa da democracia e da soberania nacional contrastava com os demais, vinculados à oligarquia e simpáticos ao capital estrangeiro. A situação precipitou-se quando, no começo de agosto de 1954, o major da Aeronáutica Rubem Vaz, que fazia a segurança de Carlos Lacerda, o principal líder da oposição contra Vargas, foi morto a tiros num incidente nebuloso, conhecido como o “crime da rua Toneleros”. A direita tinha agora um cadáver, sobre o qual erigiu a tristemente célebre República do Galeão: a Aeronáutica instalou um Inquérito Policial Militar (prenúncio dos IPMs que caracterizaram a ditadura militar de 1964) para apurar o caso, encastelou-se na base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, e passou a apurar, extrapolando a lei, aquele caso. Fez prisões ilegais, torturou testemunhas e suspeitos, invadiu o Palácio do Catete (que era a sede do governo) em busca de documentos… Anos mais tarde, Alcino João do Nascimento, condenado pela morte do major Vaz, relatou as torturas que sofreu: “uma coisa horrível. O sujeito fica em cima de um tamborete, de cócoras, e ligam um fio elétrico em todas as partes íntimas. Caí no chão desmaiado e isso não foi nem uma nem duas vezes”.

 

A imprensa conservadora cumpriu seu papel, semelhante ao linchamento que promove hoje contra os setores democráticos, progressistas e nacionalistas. Prejulgou, condenou, repercutindo acusação atrás de acusação sem preocupar-se em averiguar sua procedência e correção. Cumpriu o mesmo papel político que cumpre hoje, transformando seus jornais em verdadeiros panfletos de defesa das teses da direita.

 

Embora sem a força militar que tinha no passado, a direita continua usando os mesmos métodos truculentos e ilegais para defender o mesmo programa antidemocrático, antinacional e antipopular. É a mesma luta do passado, que precisa inspirar-se na história para combater os inimigos do povo brasileiro.