Os planos golpistas da elite boliviana

Na Bolívia, como na maior parte do mundo capitalista, a vontade da minoria prevaleceu durante muito tempo sobre as necessidades da maioria. A elite arrogante predominava em todas as esferas do poder, até que a eleição de Evo Morales – um líder sindical de origem indígena – deu vez e voz aos setores populares historicamente excluídos do governo central e adotou uma série de reformas para tirar a Bolívia do colonialismo predatório das multinacionais e colocá-la no caminho do desenvolvimento e da justiça social. Foi um golpe duro para uma elite branca, racista e pró-imperialista acostumada a séculos de privilégios e desmandos.



Este incômodo da elite com a perda de poder, sobretudo com a perda de poder sobre os rumos da economia, alimentou o movimento separatista de Santa Cruza de la Sierra e contaminou também os setores empresariais de outros departamentos que integram as províncias da chamada Meia-Lua. Como a mídia privada está toda sob controle destes grupos, não foi difícil convencer também setores da classe média que, neste final de semana, participaram de um referendo manipulado e inconstitucional com o qual tenta-se impor a autonomia do departamento de Santa Cruz. A ilegalidade do referendo foi decretada pelo próprio Tribunal Eleitoral da Bolívia. Além disso, não obteve o apoio de organismos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos).



Mesmo assim, os separatistas de Santa Cruz arrotaram vitória ao dizer que “86% da população” votou pelo “sim” à autonomia. Os números são passíveis de contestação. O próprio presidente Evo Morales considerou o referendo um fracasso pois, se forem somados a abstenção (de cerca de 40%), os votos nulos e os votos pelo “não”, poder-se-ia concluir que mais da metade da população rejeita a bandeira separatista.



Mas não são necessários exercícios matemáticos para qualificar o referendo. Basta saber que o que querem os separatistas de Santa Cruz não é apenas manter sob controle total os impostos gerados pela maior e mais rica unidade política da Bolívia, sem ter que dividir a parte que não podem sonegar, acumulando riquezas para eles e não para o país e o povo boliviano. Tampouco se restringe a um movimento de latifundiários que tenta impedir a reforma agrária planejada pelo governo de Evo Morales.


 


Os separatistas vão além. Na prática, alimentam um movimento nacional que tem como objetivo afastar Evo Morales do poder. Com isso, reforçam as iniciativas do imperialismo estadunidense que tenta desestabilizar os governos progressistas do continente e barrar o processo de integração, democratização e virada à esquerda que boa parte da América Latina está experimentando após anos de predomínio neoliberal. E que insufla a oposição golpista em sua intenção de ferir a unidade nacional boliviana.



Agindo assim, fica claro que o referendo de Santa Cruz é mais um ato do movimento golpista das elites, como tantos outros que assolaram a história recente do nosso continente. Cabe ao povo boliviano resistir ao golpe. E aos povos e movimentos progressistas do mundo todo, cabe-nos hipotecar solidariedade ao governo de Evo Morales e à luta dos bolivianos por sua soberania, autodeterminação e unidade nacional.