Por uma ''calorosa'' recepção a Bush no Brasil

George Walker Bush vem ao Brasil. O representante número um do imperialismo norte-americano, iniciador das guerras de agressão ao Afeganistão (2001) e Iraque (2003), fundador do campo de concentração de Guantânamo e do centro de torturas de Abu Ghraib, sabotador do Protocolo de Quioto, mutilador das liberdades civis e expoente do neoconservadorismo em seu próprio país estará em São Paulo nos dias 8 e 9 de março, quinta e sexta-feira.



A visita iniciará uma turnê latino-americana que inclui o Uruguai, Colômbia, Guatemala e México. A diplomacia de Washington não faz segredo de que se trata de uma contra-ofensiva. O império sente-se pouco à vontade, depois de ter perdido a batalha da Alca, face ao sucesso do Mercosul, que agora inclui a Venezuela bolivariana, e à maré antineoliberal em curso no continente.



Desde já estabeleceu-se uma emulação entre os movimentos sociais dos cinco países visitados, para ver quem promove as maiores, mais incisivas e criativas manifestações de protesto contra o execrado visitante. Em seu editorial de hoje, o diário mexicano La Estrella diz que ''a comitiva presidencial pode antecipar que será recebida com todo tipo de reclamos e protestos, e talvez os mais transcendentes sejam no México''. Argumenta com o muro que os EUA estão erguendo na fronteira dos dois países. Na Guatemala, Orlando Blanco, dirigente do Coletivo de Organizações Sociais (COS), anunciou já na sexta-feira (9) uma programação. No Uruguai, é a central sindical unificada, PIT-CNT, que toma a frente dos preparativos de uma coalizão antiimperialista.



O ocupante da Casa Branca tem sido repudiado também em seu próprio país, onde as pesquisas o apontam como o presidente mais rejeitado dos últimos 30 anos. Há duas semanas (26/3), em Washington, uma concentração diante do Capitólio, centrada no repúdio à Guerra do Iraque, reuniu 100 mil pessoas conforme a imprensa e 500 mil segundo os organizadores.



Numa muda confissão da impopularidade de seu chefe, e numa afronta suplementar aos países visitados, a administração estadunidense resolveu assumir ela mesma o grosso do dispositivo de segurança para a viagem. Junto com Bush, viajará um pequeno exército de 2.500 agentes, munido de aviões Galaxy, helicópteros, um hospital ambulante e várias limusines blindadas.



O Brasil sai com uma vantagem na saudável competição com os outros países compreendidos na turnê: a chegada de Bush coincidirá com o Dia Internacional da Mulher, tradicionalmente marcado por manifestações de rua nas principais cidades. As brasileiras, conhecedoras do machismo inerente ao fundamentalismo neoconservador bushiano, terão todo interesse em partilhar esta data com outras causas e presenças, em um 8 de Março especial e incrementado.



Nesta sexta-feira (16), às 9 horas, na sede da CUT em São Paulo, uma reunião da CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais, que inclui também o MST, UNE, Ubes, Conam e outras entidades) programará a recepção ao Carrasco de Bagdá. ''Nosso objetivo é unificar as duas mobilizações (8 de Março e protesto anti-Bush) em uma só'', adiantou Wander Geraldo, presidente da Conam.



É bom porém que se diga que na outra visita que George W. Bush fez ao Brasil, em novembro de 2005, os protestos reuniram 2 mil pessoas em São Paulo, mil em Recife e um pouco menos em Salvador. Caso a dose se repita, ficaremos atrás da Guatemala. A convocação precisa ser ousada e massiva, alheia a qualquer espírito de rotina, caso se deseje um 8 de março à altura da ojeriza dos brasileiros ao Carrasco de Bagdá.



Bush será recebido pelo governo brasileiro como chefe de Estado, e a pauta das conversações inclui um possível incremento das relações comerciais na área dos biocombustíveis. É bom que o Brasil venda etanol aos EUA. E será melhor ainda quando elas deixarem de pagar 54 centavos de dólar por galão, a título de barreira protecionista. São os EUA que têm o vício dos bloqueios comerciais, como o estabelecido unilateralmente contra Cuba, 45 anos e dez dias atrás. Para os movimentos sociais, são duas coisas distintas: comércio é comércio; protesto é protesto.