Pressão redobrada pelo corte dos juros

Não será igual a suas 140 antecessoras a reunião que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central que inicia nesta terça-feira (10) e conclui na quarta, definindo a taxa de juros Selic. É hora de redobrar a pressão para que o órgão deixe de obedecer aos interesses da agiotagem financeira, ouça o Brasil real que quer crescimento, emprego e renda.

 

Isto não é uma reafirmação, ainda que a crítica ao fundamentalismo do Copom venha de longe, desde seus primeiros passos no primeiro governo Fernando Henrique. Hoje há motivos novos, bem mais graves e prementes, para se exigir uma guinada na política de juros.

 

A crise mundial do capitalismo mostra-se mais virulenta e duradoura que as previsões mais pessimistas. Todo o primeiro mundo já está em recessão. O Brasil escapou dela, até agora. Mas o IBGE deve anunciar nesta terça-feira o PIB do quarto trimestre de 2008, inferior ao do terceiro e apenas modestamente superior ao do mesmo período de 2007.

 

Em decorrência, a pressão sobre o Copom também não é nem poderia ser a usual. Depois da última reunião do Comitê, em janeiro, que cortou um  ponto na Selic fixando-a em 12,75%, o país assistiu ao lançamento de um pouco usual Manifesto contra a crise assinado por centrais sindicais de trabalhadores e suas congêneres patronais (entre elas a poderosa Fiesp, dos industriais paulistas).

 

O que quer o inusitado Manifesto conjunto de trabalhadores e patrões? Aceleração da queda nos juros, alcançando, o quanto antes, 8% ao ano; reuniões do Copom a cada 15 dias (e não 49) enquanto perdurar a crise; drástica redução dos spreads bancários; e ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN, a instância acima do Copom), abrindo-o à participação de outras áreas do governo, da área acadêmica e das forças produtivas, como representantes dos trabalhadores e empresários.

 

Na reunião desta semana, face ao cenário mundial e nacional preocupante, é ponto fechado que haverá novo corte nos juros. Os analistas do mercado financeiro, afinados com os mesmos interesses do Copom e portanto distantes daqueles do Manifesto, previam mais um corte de apenas um  ponto percentual. Porém nos últimos dias, com as nuvens da crise se avolumando, muitos passaram a apostar em 1,5 ponto.

 

O fato é que o clamor por um corte incisivo cresceu. Mesmo o Palácio do Planalto hoje se inquieta, por temer um rombo na arrecadação e por estar empenhado, inclusive com vistas a 2010, em manter o país crescendo apesar da crise.

 

Noutras circunstâncias isso bastaria, já que o BC está formalmente subordinado ao Ministério da Fazenda e deve em tese aplicar a política monetária do governo. Porém o Planalto até hoje insistiu em respeitar uma ''autonomia'' que a lei não confere ao BC.

 

É preciso que o povo sitie politicamente esse órgão que teima em escapar a todo controle democrático. Há enorme espaço econômico para uma conduta monetária que rompa com a homeopatia contracionista, combata a crise e fomente o desenvolvimento. A decisão sobre os juros é essencialmente política, e é na arena política que se definirá se a decisão de quarta-feira atenderá ao Brasil que produz ou a um punhado de agiotas. Daí o valor, e a necessidade, da pressão redobrada.