Rejeição a Bolsonaro e o desafio da oposição

(Foto: Reprovação)

O dado da pesquisa do instituto Ipec dando conta de que 66% dos entrevistados rejeitam a maneira como o presidente da República, Jair Bolsonaro, está governando o Brasil é um bom indicador do seu crescente isolamento. A evolução rápida dessa tendência – um crescimento de oito pontos em quatro meses, de acordo com a pesquisa –, decorre de questões bem conhecidas, a começar por seu comportamento, incompatível com as responsabilidades de quem ocupa o mais importante posto nos poderes da República.

Sua mentalidade condicionada por parâmetros autoritários, invocados com apologias aos métodos da ditadura militar, faz do seu governo uma espécie de poder paralelo à Constituição, pendor revelado por sistemáticos ataques às instituições do Estado Democrático de Direito. À medida em que despreza e até confronta os canais da mediação democrática, Bolsonaro se lança na aventura golpista e se manifesta cada vez mais sem o verniz das juras ao cumprimento na Constituição.

Ao revelar sua verdadeira face, caem por terra as promessas de que faria um governo capaz de resolver os problemas mais sentidos da população. Surge uma figura caricata, exagerada nos arroubos e sem condições de manter a atmosfera que iludiu seus eleitores. Consciente disso, Bolsonaro se arvora em salvador da pátria e recrudesce as ameaças ao regime democrático, optando pela radicalização autoritária como método para se livrar de responsabilidades e tentar manter o apoio de seus seguidores mais fieis tendo como único propósito se viabilizar eleitoralmente na disputa presidencial de 2022.

Isolado e ameaçador, Bolsonaro pode enfrentar dificuldades para viabilizar sua política econômica, um dos aspectos centrais de seu governo. A convergência que se formou no campo que o elegeu, fundada numa intensa e extensa campanha midiática que corroborou suas diatribes antidemocráticas para restaurar a ordem neoliberal – ponto sinalizado com a indicação de Paulo Guedes para o ministério da Economia – pode se desfazer no rastro dos seus arreganhos e atentados ao Estado Democrático de Direito.

A hipertrofia do poder financeiro, guiada pelo “ajuste fiscal” a serviço da especulação parasitária internacional que arrocha o Estado de maneira violenta, produziu resultados que atingem diretamente a vida do povo. Com o país imerso numa tragédia social de enorme dimensão, uma combinação catastrófica de crises econômica e sanitária, a imobilidade do governo no âmbito das políticas de atendimento às emergências do país é vista cada vez mais como algo inaceitável.

Com um grande contingente de desempregados, o atendimento à saúde saturado pelo descontrole da propagação da pandemia e os números de mortes nas alturas, sem perspectivas de reversão a curto e médio prazos, as expectativas com esse governo reduzem-se cada vez mais. Numa outra dimensão, existe também a destruição do patrimônio nacional, as evidências de corrupção sistêmica – como vem demonstrando a denúncia na aquisição de vacinas da Covaxin – e o desmonte do Estado como centro dinamizador da economia e das políticas de inclusão social.

Não se pode perder de vista que esses números da pesquisa dizem respeito a um momento específico. Recentemente, a popularidade de Bolsonaro se manteve com certa estabilidade por conta dos efeitos – manipulados, diga-se de passagem – do auxílio emergencial, fato que demonstra seu potencial de, à base da demagogia, recuperar alguns pontos de aprovação, exatamente pela falsificação das causas de alguns ganhos na economia. Mas, de toda forma, revelam que existe fatos objetivos que podem intensificar a constituição de uma ampla unidade da oposição para pôr fim a este governo inimigo do Brasil e dos brasileiros.