Seminário tucano em tempo de vacas magras

Depois do DEM (ex-PFL), é o PSDB que se debruça na análise de sua trajetória sob o governo Lula. Um seminário nesta segunda-feira (28) reúne em Brasília a fina flor do ticanato. O evento pretende dar ''o pontapé inicial no processo de reestruturação'' do partido, e preparar seu 3º Congresso, em setembro.



Não se espera uma guinada como a do ex-PFL – que trocou de nome, sigla, cor e direção. São dois cenários oposicionistas distintos, pois a derrota do PSDB na eleição de sete meses atrás foi matizada pela manutenção dos governos estaduais de São Paulo e Minas Gerais (mais a conquista de um altamente encrencado governo gaúcho).



Porém, por ironia, este prêmio de consolação, que é o trunfo tucano, é também o pomo da discórdia de um partido outra vez rachado, como em 2006, mas com quatro anos de antecedência, entre dois presidenciáveis rivais, os governadores José Serra e Aécio Neves. Quanto ao candidato presidencial do ano passado, ex-governador Geraldo Alckmin, não foi escalado entre as ''pessoas de peso'' que ocupam a tribuna do Seminário.



Em paralelo à disputa Serra-Aécio, a luta interna comporta também divergências de tática política. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje na ponta direita da legenda, prega uma oposição pura e dura, e que defenda a herança de seus oito anos no Planalto, mas perdeu a ascendência que tinha. Já o presidente da sigla, senador Tasso Jereissati (CE), volta a falar em uma aliança com o PT, ou com a banda deste que se rendeu aos fundamentos neoliberais em política econômica.



Quando se abarca o conjunto destes 53 meses de Lula fica claro que são tempos de vacas magras, para as oposições em geral e para a principal legenda oposicionista em particular.



Até a eleição, havia um bloco oposicionista PSDB-PFL, que nucleava também o PPS, por certo tempo o PDT e até certo ponto o Psol. E trabalhava em unidade com a mídia dominante, numa dobradinha oposicionista-midiática.



As urnas de outubro acabaram com o bloco. Em vez dele, predominam as forças centrífugas, interpartidos e intrapartidos.



O 3º Congresso do PSDB não possui 14 teses concorrentes, como o do Psol (marcado para julho, no Rio). Mas isto se deve mais a uma questão de estilo que a uma maior coesão. Os tucanos parecem preferir a máxima da velha política brasileira que aconselha: ''Passarinho na muda não pia''.



Com as siglas oposicionistas na muda, retraídas e ensimesmadas, a mídia oposicionista trabalha sozinha. A revista Veja acaba de alvejar o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), um aliado do Planalto, com um torpedo acusatório de pontaria e poder explosivo ainda por confirmar. Nos idos de 2005, seria a deixa para a oposição ir para as cabeças ''com sede de sangue'', para usar a eloqüente expressão de FHC. Hoje, predominam os temores com as baixas que a Operação Navalha da Polícia Federal possa provocar nas hostes oposicionistas. Também a CPI dos Aeroportos, ou do Apagão, é uma sombra das suas congêneres pré-eleitorais.



Há dois fatores no pano de fundo das dificuldades oposicionistas. Um é a economia ''em céu de brigadeiro'', com algum alívio para a renda e o consumo dos brasileiros – ainda que perdurem, mesmo na base de apoio do governo, dúvidas e até questionamentos sobre a solidez deste cenário. O outro é a imagem do presidente, escorada em uma cômoda aprovação nas pesquisas e em um carisma que parece crescer quando é atacado.



Enquanto atuarem esses dois fatores, a tendência é de mais vacas magras para os oposicionistas. E as esperanças de ''revitalização do ideário tucano'' ficarão depositadas em um futuro mais ou menos longínqüo e problemático.