Unasul, um ''chega prá lá'' aos EUA na América do Sul

A integração continental deu um grande passo na sexta-feira, dia (23), em Brasília: os chefes de Estado da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela assinaram o Tratado Constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).


 


Como disse o presidente Lula, um dos maiores entusiastas da iniciativa, “a América do Sul ganha um novo papel geopolítico com a criação do organismo”. 


 


A ata de fundação do bloco diz que a Unasul tem como objetivo construir, de maneira participativa e consensuada, a integração e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos. Outro objetivo é fortalecer a democracia e reduzir a assimetrias no marco do fortalecimento da soberania e independência dos Estados. O documento determina a criação de instituições básicas, dentre elas uma secretaria permanente, com sede em Quito, e dois conselhos, um de chefes de Estado e outro de ministros.


 


Mas a parte mais estratégica da iniciativa é a formação de um Conselho de Defesa Sul-Americano. A idéia de um Conselho de Defesa partiu do Brasil, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez um périplo por vários países em defesa da idéia. Apesar da recusa da Colômbia, os demais países da Unasul criaram um grupo de trabalho para finalizar em 90 dias o desenho do Conselho.


 


É reveladora a resistência da Colômbia em integrar o Conselho. A política de defesa do governo colombiano é praticamente ditada pelos Estados Unidos, e o presidente Uribe não dá um passo em sua política externa sem antes pedir a benção de Tio Sam. E a formação do Conselho de Defesa nos moldes propostos pelo Brasil é claramente um ''chega pra lá'' na política imperialista estadunidense. Com sua relutância pró-imperialista, a única coisa que a Colômbia conseguirá é ampliar ainda mais seu isolamento no sul do continente.


 


Mas não só o governo Uribe torceu o nariz para a iniciativa. Parte da imprensa grande, e conservadora, também torceu pelo fracasso da reunião. Expressões como “mais simbólico do que prático”, “fracasso anunciado” e “atritos regionais insuperáveis” compuseram as laudas de muitos jornais e emissoras que cobriram a reunião de Brasília.


 


Porém, havia forte discrepância entre os fatos e as versões. E os fatos mostraram uma concordância geral dos países com a idéia de formação da Unasul e amplo apoio ao Conselho. Assim, o ladrar da imprensa reacionária serviu apenas para reforçar de que lado estão os empresários da mídia grande.


 


A assinatura do Tratado é mais que uma vitória da política externa brasileira, é uma vitória da integração latino-americana. Representa a união para a independência e libertação da América Latina. Um sonho maior que o de Simon Bolívar, como bem definiram os presidentes signatários da Unasul.


 


E, de certo modo, representa também a consolidação da influência dos governos progressistas da região. Não à toa, a reunião do Foro de S. Paulo –que também aconteceu neste final de semana—saudou com entusiasmo a assinatura do Tratado Constitutivo da Unasul e a proposta de criação do Conselho de Defesa Sul-americano e lembrou que outras iniciativas como a do Banco do Sul integram o grande esforço continental de integração solidária dos povos latino-americanos.