Vida e democracia, bandeiras da frente ampla

Depois de uma longa semeadura, no momento em que o bolsonarismo acirra suas ameaças ao Estado Democrático de Direito, começa a ganhar forma a ideia de frente ampla, com variadas formas e diversos contornos. Ela irrompe como defensora da vida e da democracia, como se viu recentemente com a ampla circulação de manifestos e pronunciamentos de diferentes segmentos representativos da sociedade.

A diversidade é um ponto positivo nessa conformação, agrupando, no campo da defesa da vida e da democracia, advogados, juristas, intelectuais, artistas, religiosos, lideranças políticas e representantes populares, que se manifestaram em inciativas como o “Movimento Estados Juntos”, o “Basta”, a “Comissão Arns” e o “Direitos já”. No mesmo campo também está a ampla maioria de governadores.

Soma-se ainda, nesse campo, amplos setores do Congresso Nacional, abarcando forças de esquerda, de centro-esquerda, de centro-direita e até mesmo de direita. Há ainda importantes manifestações, na defesa da vida e da democracia, no Poder Judiciário, em especial no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas é preciso dizer que, depois desse longo trabalho, ainda persistem concepções que são verdadeiras travas para o progresso da frente ampla. São posições políticas equivocadas, sectárias mesmo, óbices a uma maior ampliação do campo da resistência democrática.

Pode-se notar dois fatores para essas posições. O primeiro é a subestimação da ameaça representada por Bolsonaro, a falsa percepção de que seus rugidos são meras bravatas. O segundo é a postura errônea de subordinar as causas democrática e nacional a interesses exclusivistas ou particulares. Nos dois casos, trata-se de atitudes inconsequentes, que são merecidamente criticadas pelos que veem a vida e a democracia como prioridades.

O momento, com Bolsonaro intensificando os ataques às instituições – uma ofensiva para enfraquecer o Congresso Nacional e achincalhar o STF – e o país superando a escala de mais de mil mortes diárias pela pandemia do coronavírus, exige unidade.

Está aí, para ilustrar a gravidade do bolsonarismo, o veto do presidente da República ao repasse de R$ 8,6 bilhões para estados e municípios comprarem equipamentos e materiais de combate à Covid-19. Outro exemplo é a classificação de “terrorista” para o movimento antifascista, que vem enfrentando os arroubos do presidente contra o Estados Democrático de Direito.

O momento é de firmeza, clareza de objetivo e passos decididos para que a frente ampla se concretize, agrupando concepções e interesses de classes às vezes díspares, mas que convergem para a defesa da vida e da democracia. A ausência nessa tarefa prioritária, nesse momento crítico do país, além de ser um equívoco é uma contribuição para dificultar a resistência democrática.