Viva Cuba, viva Fidel

A substituição de Fidel Castro à frente do governo de seu país teve enorme repercussão em Cuba e no mundo. O comandante guerrilheiro de Sierra Maestra, líder de uma revolução socialista indômita e original, a primeira a triunfar nas Américas, declina voluntariamente de permanecer na presidência e assume em tempo integral o papel de ''soldado das idéias''. Com isso, atesta a pujança da revolução cubana, dá um exemplo e desperta não poucas reflexões.



Nas hostes da direita mundial e latino-americana, na administração George W. Bush e na Máfia exilada de Miami, os fogos de artifício pelo ''fim da era Fidel'' não conseguiram esconder a frustração. Essa gente sonhava derrubar o gigante barbudo, liquidar o líder que a fustiga há tanto tempo, em palavras e atos, com tanta perspicácia, tanta verve e eficiência. No mínimo, imaginava um pós-Fidel com a Ilha acéfala e atônita, quem sabe protestos de rua.



A reação dos cubanos confirmou que o comandante estava certo quando decidiu que, mesmo ''em meio à batalha'', e ainda que permitindo um instante de regozijo a ''um adversário que fez tudo que se podia imaginar para se desfazer de mim''. Não se poderia imaginar transição mais tranqüila, madura e lúcida.



Ocorre que, ao contrário do que prega a ciência política vulgar, os indivíduos, mesmo aqueles com a estatura de um Fidel Castro Ruiz, têm um papel histórico subordinado. São mais criaturas que criadores dos grandes processos que mudam o destino dos povos. Os protagonistas principais são personagens coletivos – as classes sociais, as correntes de opinião, os movimentos de massas.



Na semana que passou, um grande personagem coletivo, o povo cubano, evidenciou com serenidade e firmeza que dele sua Ilha vai se manter no caminho da revolução.
Haverá mudanças. E quando não houve? A mudança é uma lei geral, na natureza e mais ainda na sociedade. Vale mesmo para as realidades mais blindadas ao novo – como a dos Estados Unidos, onde dois partidos únicos se revezam há um século e meio. E muitíssimo mais nos processos revolucionários.



A mudança é o fruto incessante e inevitável da luta de contrários. Uma revolução, no fundo, é a tomada de consciência e a colocação em movimento das forças coletivas capazes de superar o que caducou historicamente e construir uma alternativa nova.
É o que os cubanos não cessam de fazer desde a vitória da guerrilha 49 anos atrás. E é o que dão provas de que continuarão fazendo. Mudanças pela liberdade, pela independência nacional, pelo socialismo. Mudanças no sentido oposto ao intentado pelo Império, que há quase meio século tenta sufocar a Ilha rebelde de Fidel com seu bloqueio criminoso.



Na nova fase que inicia, Cuba tem a vantagem de não se achar isolada. A onda transformadora que varre a América Latina serve-lhe de reserva e retaguarda. E não se trata apenas dos governos progressistas que se multiplicam no continente. Também nos povos latino-americanos cresce a simpatia e a admiração pela experiência cubana, passo a passo com o convencimento de que o socialismo renovado é a alternativa, possível e necessária. para o status quo da dependência e da dosparidade social capitalistas.