40 anos sem Vinicius de Moraes: dia de reverenciar o Poetinha

Autor de célebres canções e figura icônica da arte brasileira, ele permanece vivo com sua obra e na cabeça das novas gerações; live nesta quinta-feira homenageia o compositor.

Poeta, dramaturgo, diplomata, crítico de cinema, cronista e compositor. Boêmio, desregrado, tomador de uísque, fumante. Popular, erudito, tinha um pé no cinema e outro no teatro. Adepto do Candomblé. Autor de vários livros, de peças de teatro e de canções que se tornaram sinônimo de música popular brasileira: “Se Todos Fossem Iguais a Você”, “A Felicidade”, “Aquarela”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Tarde em Itapoã”, “Garota de Ipanema”, “Regra Três” e tantas outras joias do cancioneiro nacional.

Sobre os parceiros, pode-se dizer que ele compôs com os grandes: Chico Buarque, Francis Hime, Alaíde Costa, Jards Macalé, Pixinguinha, Edu Lobo, Carlos Lyra, Baden Powell, Tom Jobim e Toquinho – com os três últimos fez suas tabelinhas mais célebres e frequentes.

Nesta quinta-feira (9), completam-se 40 anos sem Vinicius de Moraes, que naquela manhã de julho de 1980 não resistiu a um edema pulmonar e morreu em sua casa na Gávea, no Rio de Janeiro, ao lado de Toquinho, com quem havia lançado “Um Pouco de Ilusão” meses antes, e de Gilda Matoso, sua última companheira. Representante da música brasileira em todo o mundo e figura importante da nossa poesia, o carioquíssimo Vinicius, quatro décadas depois de sua morte, continua a influenciar as novas gerações com sua obra imortal.

Foi na infância em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, que o cantor e compositor Pedro Morais, 38, criado em um ambiente muito musical, teve o primeiro contato com as canções de Vinicius de Moraes. O álbum “Arca de Noé”, baseado nos poemas infantis reunidos em um livro homônimo, tocou muito na vitrola da casa dos pais do artista mineiro, nascido em 1981. “A gente cantava em encontros lá em casa, em festas. Ele e o Toquinho ficaram marcados ao longo da minha vida por serem compositores que trabalharam muito bem com obras infantis”, ele conta.

As canções que o encantaram na infância também foram a trilha sonora de sua adolescência. Morais ressalta a importância dessa base artística e a influência que isso teve no seu trabalho. “Ele conseguia escrever de uma maneira simples e elegantes coisas corriqueiras. Era um cara de muito conhecimento, a escrita era muito precisa. A música que ele fez tem uma linguagem universal. Para mim, foi muito importante, bebi muito dessa fonte”, diz o cantautor, que já lançou três discos, o último deles, “Vertigem”, saiu no fim de 2013. Paralelamente a carreira solo, Morais integra o grupo Cobra Coral.

A paixão pelo vinil virou coleção em CD e os discos infantis de Vinicius de Moraes passaram a embalar outras gerações. Pai de Dante, de 6 anos, Pedro Morais garantiu que o filho tivesse as mesmas experiências que ele teve em sua infância no Norte de Minas: “Claro que apliquei Vinicius nele! (risos) Quando ele nasceu, era ‘de lei’”.

Poetinha

A poeta belo-horizontina Bruna Kalil Othero, 24, também cresceu ouvindo “Arca de Noé”. Quando, na adolescência, começou a ler poesia, se apaixonou pela obra de Vinicius de Moraes. O primeiro poema que ela decorou na vida foi “Ausência”, que também é o seu preferido do Poetinha, como Vinicius era carinhosamente chamado. Aos 16 anos, pesquisou sobre a obra do compositor para um trabalho de escola. “Foi quando li os livros dele e entendi sua dimensão e importância”, ela conta.

Vinicius de Moraes conseguiu dialogar com as massas. Carlos Drummond de Andrade, no dia da morte de Vinicius, disse: “Ele era perfeito, senhor absoluto de sua arte e soube interpretar, de maneira fina, o sentimento do seu povo”. Esse apelo popular é, para Bruna, uma característica fascinante da obra do carioca. “Isso é muito bonito, poucos poetas conseguiram o que ele conseguiu: atingir o povo de forma tão intensa, com a poesia e com a música. Para mim, o principal que fica dele é esse acesso ao povo, a uma linguagem mais acessível sem abrir mão da exigência estética para ser informal”, comenta Bruna, que ressalta o resgate do soneto na poesia brasileira feito por Vinicius.

O trânsito natural entre diferentes expressões artísticas que o artista sempre apresentou em sua trajetória é destacado por Bruna. Segundo ela, a facilidade e a busca por produzir em diferentes suportes marcou a vida do Poetinha e essa multiplicidade é um norte que ela procura em suas produções, que têm um forte caráter multimídia.

“Ele também era cronista, escrevia prosa, não se limitava a poesia no papel, escrevia música e cantava, mesmo sem ser um ótimo cantor. Estava em várias frentes de arte, gosto disso e me inspiro”, diz a poeta, que, além de publicar seus livros – o mais recente deles é ‘Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas’, lançado em outubro passado –, mantém um projeto de performances de leitura de poemas em seu canal no YouTube.

Fonte: O Tempo

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