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Brasigóis Felício: Tirando o capuz

*

Nos porões do Doi-Codi


o batismo de sangue


dos padres dominicanos.



 



O horror era medido


pela qualidade do grito:


os que eram produzidos


por espancamento,


por mais bárbaro,


eram diferentes dos berros


produzidos pelo choque elétrico:


estes, relatam os sobreviventes


daqueles tempos sombrios –


vinham de dentro das entranhas,


pois a dor era tamanha


que superava a capacidade humana


de suportar o sofrimento.



 



Tempo sombrio, violento


de uma ditadura


que tendia a se transformar em duas


golpe dentro do golpe que multiplicava


a crueldade. Nestes dias sombrios


em que jornalistas, intelectuais,


professores e clérigos


eram encapuzados e torturados


em furor insano e sombrio


Wladimir Herzog foi assassinado


depois de sofrer bárbaras sevícias.



 



Tudo em nome da histeria anti-comunista,


que servia de pretexto


para a insanidade dos golpistas.


um culto ecumênico


visto como afronta ao regime


deu início à resistência


da brava gente brasileira


até então anesteziada


pelo poder de compra que lhe dava


o milagre brasileiro.



 



Deu-se então, que ao cair


da fantasia, os que nada viam


passaram a escutar


os gritos e os gemidos


nos porões da ditadura. 


 



Vlado foi o cordeiro inocente


imolado sem motivo


– se foi bárbaro o sacrifício


não foi inútil: fez acordar


os adormecidos, e


despertou da letargia


um povo iludido


com falsas vitórias


– uma “pátria de chuteiras”


campeã moral em ser


a nação dos falsos começos


– a que avança aos trancos,


vencida pelo jeitinho brasileiro


com que vai empurrando


seus problemas com a barriga


sem nada saber de si mesma


e sem por termo à farra cívica


de seus eternos erros.