Cazuza foi leve, alegre, intenso, denso e profundo, até o dia de sua morte, há exatamente três décadas. Suas ideias, sob o governo Bolsonaro, estão vivíssimas.
Publicado 07/07/2020 21:43
Antes do Barão Vermelho, bem no início da década de 1980, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, cantava no Circo Voador, com Bebel Gilberto. O grupo liderado por Roberto Frejat tampouco passava de uma banda de garagem que se apresentava no circuito underground. Cazuza e Barão formaram um casamento perfeito que, em pouco tempo alcançou sucesso nacional. Gravaram a música tema do filme Bete Balanço e fizeram bonito no Rock’in’Rio de janeiro de 1985
A apresentação da banda coincidiu com a eleição do presidente Tancredo Neves e com o fim da ditadura militar (1964-1985). A expressão libertária e engajada do Barão se tornou trilha sonora da esperança por um novo tempo. No palco, Cazuza anunciou a mudança política que despontava: “Estamos, meu bem, por um triz / Pro dia nascer feliz”.
Mas, rebelde e amável que era, Cazuza deixou a banda no auge, sem perder a amizade. Já em 1985, iniciou carreira solo. Em novembro, lançou a canção autobiográfica Exagerado. O poeta não se constrangeu nem mesmo após ser diagnosticado com a Aids em 1987. Transformou a doença em sabedoria e maturidade.
Acompanhar o inesperado diagnóstico, o corpo jovem do artista sendo consumido, o desconhecimento sobre a doença e seus tratamentos foi também um duro aprendizado para a sociedade. As músicas que produziu a partir de então trouxeram um tom mais reflexivo e politizado, como: Brasil, Ideologia e O Tempo Não Para.
Desde o início da década de 1980, o rock puro e simples do Barão Vermelho foi rebelde, autêntico e com forte identidade nacional. Com o amadurecimento de sua carreira, o jovem cantor e compositor ficou ainda mais crítico e politizado.
Nascido em 4 de abril de 1958, Cazuza foi leve, alegre, intenso, denso e profundo, até o dia de sua morte, há exatamente três décadas, em 7 de julho de 1990. Tinha 32 anos. Contando dramas, paixões e contradições de seu tempo, Cazuza exprimiu o sentimento de sua geração, bem como da democracia que voltava após 20 anos de ditadura. Suas ideias, sob o governo Bolsonaro, estão vivíssimas.