Cida Pedrosa é finalista do Prêmio Jabuti

A poeta sertaneja concorre à renomada premiação da literatura nacional pela primeira vez.

O livro Solo para vialejo, de Cida Pedrosa, é um dos cinco finalistas do prêmio Jabuti 2020, na categoria Poesia. A lista dos cinco escolhidos em cada categoria foi anunciada nesta quinta-feira (5). A cerimônia de premiação do Jabuti será realizada no dia 26 deste mês, com transmissão pelas redes sociais da Câmara Brasileira do Livro. O vencedor de cada categoria (exceto na Livro brasileiro publicado no exterior) leva R$ 5 mil e uma estatueta do prestigioso prêmio.

 É a primeira vez que a poeta que veio lá de Bodocó, no Sertão pernambucano, para viver no Recife na segunda metade da década de 1970, concorre à renomada premiação. “Estar entre os cinco finalistas, espacialmente quando a maioria são mulheres, é muito inspirador. É o reconhecimento de uma literatura feminina potente no Brasil”, comemora Cida Pedrosa.

O livro de 128 páginas é um poema único, uma viagem para dentro, no sentido inverso daquele percorrido por Cida quando deixou a terra natal para tentar a vida na capital. Dessa feita, ela volta com os negros e negras que foram sendo empurrados do litoral para o interior.  Contempla a geografia do Estado, a partir das cidades que beiram a BR-232 até chegar à pedra do Claranã, em Bodocó, mas se detém mesmo é na cultura, mostrando como os negros seguiram os rastros dos índios e se miscigenaram, dando origem a novos ritmos como o xote, um lamento sertanejo aparentado com o blues entoado pelos negros também oprimidos do hemisfério Norte americano.

Curioso (e ousado) é Cida usar uma corruptela no título desse longo poema épico para expressar, fielmente, a fala do sertanejo, que nunca aprendeu a dizer “realejo”, aquela gaita tão ouvida antigamente nas feiras das pequenas cidades sertanejas ou em dias de festa de padroeiro. O vialejo, que ela não aprendeu a tocar, ainda ecoa em suas memórias e nas páginas do livro, na lembrança do pai, no espectro de Lampião.

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Cida é estreante no Jabuti, mas já foi finalista do prêmio Oceanos de Literatura, com o livro Claranã, em 2016. Ao todo, são dez livros publicados, nos quais sempre figuram as questões sociais, a mulher, a dimensão humana, o espaço urbano, o ofício poético e as interfaces entre a literatura e outras artes. Na última obra “Estesia”, lançada em formato digital, Cida usa o haicai para falar da pandemia da Covid-19 e desnuda o Recife em tempos de incertezas e agravamento de problemas conhecidos pelos moradores da cidade, como a fome, a precarização do trabalho, a solidão… Sem dúvida, essa sertaneja, advogada, poetisa, militante da cultura, do direitos das mulheres e do meio ambiente também é uma das vozes mais expressivas de sua geração.

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