Editora fala em “reparar a rejeição e estigmatização” sofrida por autora, que era negra e morava em uma favela
Publicado 18/07/2020 10:52 | Editado 18/07/2020 10:57
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) está de volta! Nos 60 anos do lançamento de seu Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960), a editora Companhia das Letras anunciou que publicará “diversos títulos” da autora – uma das mais originais e injustiçadas da literatura brasileira.
“É com muita alegria que a Companhia das Letras anuncia a publicação da obra de Carolina Maria de Jesus”, informou a editora, nesta sexta-feira (17), no Blog da Companhia. “O projeto incluirá diversos títulos, como escritos memorialísticos, romances, poesia, música, teatro e narrativas curtas, entre outros. A editora recuperará os textos de Carolina a partir dos cadernos originais, espalhados por diversos acervos pelo Brasil.”
Embora o projeto não inclua Quarto de Despejo, a notícia ajuda a resgatar o legado da grande escritora negra que nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, e viveu em São Paulo, onde foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas. A edição da obra ficará sob supervisão de um conselho editorial composto por seis mulheres – entre elas a escritora Conceição Evaristo e Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina.
Segundo Vera, a iniciativa da Companhia das Letras é a realização de “um dos maiores desejos” da escritora: o de ser reconhecida publicamente como uma autora que escreveu não apenas diários – mas também “romances, poesias, provérbios, contos, peças teatrais e letras de músicas”.
Mostrar essa diversidade é um dos objetivos da parceria entre a editora e a filha de Carolina. “Ao falecer, (ela) me deixou alguns pedidos numa carta e, entre eles, que eu propagasse a sua memória”, declarou Vera ao Blog da Companhia. “São várias obras inéditas, as quais serão publicadas pela Companhia das Letras.”
Segundo Conceição Evaristo, o projeto faz justiça ao pôr a obra de Carolina “em seu devido lugar, como uma das mais emblemáticas escritoras brasileiras do século 20”. A Companhia das Letras acrescenta que a publicação da obra é “um esforço de reparar a rejeição e estigmatização que Carolina por décadas sofreu dos círculos literários, fruto de um racismo estrutural que lhe negava a presença nesses espaços”.
Casa de Alvenaria, escrito por Carolina Maria de Jesus no período em que ela morava com a família na Favela do Canindé, próxima à Marginal do Tietê, em São Paulo, é a primeira de suas obras que a Companhia das Letras publicará. O livro integrará a série Cadernos de Carolina, baseada nos diários da escritora. “Outros volumes da série incluirão cadernos que retratam a vida na favela, suas viagens e os últimos registros da escritora, quando se mudou para um sítio em Parelheiros, na zona sul de São Paulo”, conclui a editora.
