Deixa acontecer naturalmente

Viver é arriscado.

Foto: Tainan Rocha

“Ai, mas a gente nunca acha que vai acontecer aquilo com a gente, né?”.

Discordo.

Não é preciso do Drauzio Varella pra constatar que se você transar sempre sem camisinha, existem apenas três caminhos possíveis: Uma vasta prole, uma cartela de remédios ou de abortos.

Se você experimentar cheirar cocaína uma única vez na vida, isso não necessariamente significará que no dia seguinte você estará assaltando a sua própria casa pra comprar mais. Mas se você der o azar de viciar de primeira e cheirar loucamente todos os dias, então aí, você muito provavelmente poderá até acabar morto.

Viver é arriscado.

Eu mesmo, sempre andei na rua achando que poderia ser atropelado ou então levar um tiro a qualquer hora, em qualquer dia. E isso já vinha de muito antes da paranoia desenvolvida por conta dos noticiários de pandemia.

Quando criança, temia que isso acontecesse pelas mãos dos bandidos da quebrada. Um carro dobrando a esquina, desacelerando, PLAU. Mas aí gente cresce e descobre que existe um código. Descobre que os bandidos não só dão bom dia para a sua vó, como sabem o nome dela, ajudam a sua mãe com as sacolas da feira e não irão te fazer nada de ruim, a não ser que você aceite ser aviãozinho, ou então um tremendo X-9.

A gente cresce e descobre que, por conta do pantone social, é mais fácil a gente levar um tiro de um policial ou de um segurança do mercado, do shopping.

Eu, por precaução, sempre andei com a morte no cangote. No bolso da camisa.

Mas a pandemia… Por essa eu realmente não esperava.

Fez os filmes apocalípticos de Hollywood parecerem uma comédia onde o Adam Sandler faz todos os papéis.

Ele é o infectologista, mas é também o chefe de estado idiota.

Todos idiotas.

A república dos bananas virou mato. Idiocracia é um ótimo documentário pra passar na sessão da tarde. Leria Ensaio sobre a cegueira pro meu filho, antes dele dormir. Veria no repeat o primeiro tempo de Brasil X Alemanha. Mas por essa, por essa… Eu realmente não esperava.

Logo, agora eu concordo: A gente nunca acha que vai acontecer com a gente, né?

Até acontecer.

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