Fábula de um verme

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As ameaças à democracia aumentaram muito mais depois da posse de Bolsonaro l Foto: Alan Santos/PR

Era uma vez, mais um verme,
que sabíamos que era verme.
Mas ele usava disfarce de homem
No fundo de sua alma viscosa, ele gostava mesmo é de ser verme.
Todo verme acaba por amar
a sua condição de verme. “E daí?”, ele dizia.
O verme adora se comportar como um
                                                                     legítimo verme.
Agir com um, dissimular como um e mentir como um.
Sua sombra rasteja, apesar de o verme apresentar forma de homem.

E coração de anti-homem.

Ele se adapta facilmente ao meio dos vermes,
por estar travestido de homem.
E arrasta consigo alguns potenciais homens que o veem
como uma espécie de verme dos vermes
dentre os homens dos homens enviados por um deus qualquer.
Então, ele passa a ser “o” verme com vida de homem.
O verme com cara de homem pode ser tão contagiante quanto um vírus.
Um verme é também virulento por natureza.
E também parasita, por natureza.
Ele vive justamente da natureza podre dos homens.
Subsiste no apodrecimento da
liberdade e dos ideais dos homens.

Ele vive a ilusão de reinar absoluto dentre os seus
homens de estimação.
Por isso mesmo, os heróis dos vermes
são os homens torturadores-vermes-assassinos de outros homens.
Muitas vezes, ele deseja habitar as entranhas
dos vivos, mas o que ele gosta mesmo
é de homens sem vida, pois estes já não podem mais
ser inteiramente o que são. Não podem contestá-lo.
Por isso, todo verme venera as ditaduras e é um fascista,
por natureza.