Música e Trabalho: Três Apitos, de Noel Rosa

Em parceria com o Centro de Memória Sindical, o Prosa, Poesia e Arte publica a seção “Música e Trabalho”. Nesta semana, apresentamos a canção Três Apitos, composta pelo sambista carioca Noel Rosa e imortalizada na voz da cantora Aracy de Almeida. Confira!

O operário apaixonado vê seu amor refletido no cotidiano da fábrica. Isso porque suas referências estão lá. Ele vive na fábrica. Vive obediente à rotina imposta pelo apito, pelo gerente, pela chaminé de barro. Sua subjetividade está colocada ali. Noel Rosa, da dureza do cotidiano, extrai linda poesia!

Três Apitos

Quando o apito da fábrica de tecidos

Vem ferir os meus ouvidos,

eu me lembro de você

Mas você anda sem dúvida bem zangada

Ou está interessada em fingir que não me vê

Você que atende ao apito de uma chaminé de barro

Por que não atende ao grito tão aflito

Da buzina do meu carro?

Você no inverno sem meias vai pro trabalho

Não faz fé em agasalho nem no frio você crê

Você é mesmo artigo que não se imita

Quando a fábrica apita faz reclame de você

Nos meus olhos você lê como eu sofro cruelmente

Com ciúmes do gerente impertinente

Que dá ordens à você

Sou do sereno, poeta muito soturno

Vou virar guarda-noturno e você sabe por quê

Mas você não sabe que enquanto você faz pano

Faço junto do piano esses versos pra você

[Composição: Noel Rosa (1938) / Intérprete: Aracy de Almeida]

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