Em O Homem que Deixou Seu Testamento no Filme, estão presentes alguns jovens que, além de políticos, utilizam câmeras como arma política
Publicado 03/06/2020 00:21 | Editado 03/06/2020 00:23
Olhando o site Making Off, vi o filme O Homem que Deixou Seu Testamento no Filme, do cineasta japonês Nagisa Oshima. É um longa de curta duração (1h40), mas mexe com emoções que envolvem a totalidade da vida – principalmente de quem está envolvido em cinema e também em política.
O filme se chama também Ele Morreu Após a Guerra e sua estória se passa nos anos 1970, quando houve uma guerra política no Japão, uma batalha envolvendo grupos políticos de extrema. Interessante é que tudo acontece naqueles anos com ligações também ocidentais, mas tem uma atualidade extraordinária, particularmente para quem faz cinema hoje, e assim eu o indico ao cineasta Helder Lopes. Se ele ainda não o viu, que o veja logo.
Tudo se passa no tempo do maoísmo e também dos muitos grupos, tanto de esquerda quanto de direita, que se envolviam em luta naqueles anos em que no Brasil, infelizmente, se vivia a ditadura militar. E no Japão as coisas também não eram boas, inclusive ainda com a presença forte do governo norte-americano e sua dominação.
Na estória do filme de Oshima estão presentes alguns jovens que, além de políticos, utilizam câmeras como arma política. A cena inicial do filme é um jovem segurando uma câmera, filmando doidamente na corrida, e outro jovem correndo atrás dele vem para lhe tomar a câmera. O jovem corre e grita para o outro que quer a câmera – e a coisa vai até o jovem cinegrafista se jogar com câmera e tudo de prédio abaixo. Suicídio ou não? O fim dá a entender que sim, mas mais adiante que não.
É em torno dessa sequência inicial que o filme se desenvolve. E o jovem dono da câmera tem uma discussão com uma jovem, que seria sua namorada, sobre a propriedade (marxianamente falando), e também existe todo um jogo de sedução nas sequências com a jovem se ligando ainda a um outro jovem, que também seria seu namorado.
Se analisarmos a forma de pensar dos jovens que participam do filme de Nagisa, vamos chegar à conclusão de que na verdade não são tão diferentes do que parecem pensar os jovens de hoje. Eles próprios inclusive comentam sobre política e a importância de fazer política – e também fazer cinema – com as mesmas dúvidas que surgem nos jovens de hoje. E do que pensa um cineasta famoso como Nagisa Oshima e outros.
Me parece, segundo um depoimento de Nagisa, que ele próprio não sabe com segurança para que está fazendo cinema. Assim, pondo os jovens como protagonistas, deixa que para esses jovens surja a questão. Por isso mesmo, ele solta as rédeas do filme e deixa que os intérpretes sigam os caminhos que vão se abrindo. Nagisa diz mesmo que seu trabalho artístico lhe é entregue por “fantasmas” em pensamento, mostrando uma forma de criar que nos parece semelhante à que dizia ser a sua, o poeta Ferreira Gullar.
Tôkiô sensô sengo hiwa pode ser importante para professores de cinema como o Luiz Joaquim, principalmente nessa fase de quarentena com aulas pelo vídeo.