‘nos perdemos numa curva em saturno’ – 6 poemas

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desejei o seu corpo sem pau
um corpo cheio
vagante
muito mais claro que o meu,
o brilho na noite do vinho
nós duas tão altas
                     alunissei.
Só sei que o uber da volta
deu 384 mil km no final
e que nos perdemos numa curva em saturno,
por causa do seu mapa astral.

***
réptil demais

passou de óculos escuro
na curva do posto de gasolina
      -comia agora, pensei
e ri um riso
semi contido
desses que a gente se engasga
não com a saliva
com a saliência
e tenta retomar a aparência
vermelha e tossindo
o homem da bomba, quer água?
uma senhora, papel?
meu nariz escorre
minha presa escorre
e chega a salvo na esquina
com aquele óculos escuro…

***
em dupla
as orelhas
guardam
nas vagas
da escuta
     a saudade do antigo molusco

***
Naquela noite te beijei
me senti com 12 anos
por pouco não te peço
uma foto 3×4

os copos de gim
viraram soda
ninguém veio me buscar
na festa
onde apresento promessas
decoradas com crepom

meia noite
você-monóculo me flagra
excitada
gazeando a razão

Talvez este poema esteja
na última página do seu caderno
virgula na folha do seu boleto
vírgula parede do apartamento
talvez eu não me lembre
talvez eu tenha 30
talvez.

***
O jeito como você
reinventa pratos com miojo
patenteando nomes
que depois esquecemos
me convence da salvação

Você é um deus de plantão
no final do mês
o homem com o cardápio nas mãos
em paris
na porta da geladeira
não é maior do que você,
ao seu lado atravessaria guerras
e resistiria, grata

como um tamagotchi.

***
Quando
a noite cai bem
o vinho cai bem
e a minha queda em sua cama também

entendo o que é tirar proveito da gravidade dos fatos.

Fonte: mallarmagens, revista de poesia e arte contemporânea

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