As massas precisam de um intelectual, que venha de fora, sem experiência com o trabalho na fábrica, para aprender a se organizar?
Publicado 10/01/2021 04:26
No fim do século 19, a indústria europeia crescia a todo vapor, e a exploração do trabalho operário não tinha limites. Foi neste contexto que, nas imediações de Turim, Itália, a chegada do professor Sinigaglia coincidiu com a data de um desastre que mobilizou os operários: um trabalhador, exausto devido sua carga de 14 horas diárias, descuida e perde um braço na máquina que operava.
O fato faz os demais operários questionarem suas condições e, sobretudo, a jornada de trabalho. Mas, sem experiência, aqueles trabalhadores não conseguem agir organizadamente, e a chegada de Sinigaglia os ajuda. Não foi por acaso que ele desembarcou naquela região industrial, conhecida pela degradação ao trabalhador. Seu objetivo era justamente organizar a classe trabalhadora e formar sindicatos.
O professor, então, começa se aproximar dos operários e a participar de suas assembleias. Com conhecimento teórico e eloquência, ele se destaca como uma liderança. E orienta os demais a criar um fundo de greve, negociar, fazer piquetes e manter sempre o ânimo elevado. Mas suas teorias não funcionam e a situação fica cada vez mais caótica. Sem saída, Sinigaglia clama aos operários a ocupar a fábrica.
Num choque de realidade, o protesto tem um desfecho trágico. Fica a questão: as massas precisam de um intelectual, que venha de fora, sem experiência com o trabalho na fábrica, para aprender a se organizar?
O tom documental do filme insere-se no rescaldo do neorrealismo italiano do final da 2ª Guerra Mundial. Os Companheiros mostra situações reais. E o ponto crucial da crítica de Monicelli é conflito entre a tomada de consciência do operariado a partir de sua própria situação e a necessidade de um “instrutor” que venha de fora para organizar os trabalhadores.
Hoje, mais de 50 anos após sua estreia, Os Companheiros ainda instiga um debate atual e procedente.
Os Companheiros (I Compagni)
Itália, 1963
Direção: Mario Monicelli
Elenco: Marcello Mastroianni, Annie Girardot, Renato Salvatori, Bernard Blier, Folco Lulli
Palavras-chave: exploração, luta de classe, proletarização, sindicalismo
Fonte: Livro O Mundo do Trabalho no Cinema (Centro de Memória Sindical), via Rádio Peão Brasil
As massas precisam muito dos intelectuais. Muitos movimentos de massa faliram porque tem medo dos intelectuais tirarem seus cargos. A experiência das massas junto com pensadores é imbatível