Peça perseguida por bolsonaristas chega a SP; ator levou até pedrada

A Mulher Monstro estará no Festival Verão sem Censura da Secretaria Municipal de Cultura. O espetáculo terá duas sessões no Centro Cultural da Diversidade com entrada franca

Ator José Neto Barbosa protagoniza a montagem (Foto: Brunno Martins)

Uma das peças mais contundentes e polêmicas de 2018/19 chega, agora, a São Paulo. Atacada por bolsonaristas em praticamente todos os estados por onde passou, A Mulher Monstro estará no Festival Verão sem Censura da Secretaria Municipal de Cultura. O espetáculo terá duas sessões no Centro Cultural da Diversidade com entrada franca: no sábado (18), às 21 horas, e também no domingo (19), às 19 horas.

A peça é uma colagem de declarações lamentáveis, polêmicas e verídicas. A construção do texto surge de opiniões das redes sociais, das ruas e das posturas de políticos e figuras públicas bolsonaristas. Fala-se do desrespeito para além do preconceito, das violências cotidianas. Com base na linguagem drag queen, o ator José Neto Barbosa trata a atualidade brasileira ao viver a figura de uma burguesa falsa cristã, perseguida pela própria visão intolerante da sociedade.

A Mulher Monstro tem sido alvo de protestos bolsonaristas. José Neto Barbosa já foi agredido com pedradas em Jaboatão dos Guararapes (PE), na região metropolitana do Recife. Em outra ocasião, a Prefeitura de Curitiba vetou a cessão de um espaço municipal para a exibição da obra.

Durante apresentações em Natal (RN) em outubro de 2018, na reta final das eleições presidenciais, a montagem foi acusada de fazer “propaganda eleitoral irregular” e recebeu ameaças. Aliás, desde que Jair Bolsonaro se candidatou ao Planalto, a companhia perdeu dois patrocínios de muitos anos no Rio Grande do Norte.

Segundo a produção da peça, um dos patrocinadores alegou que a foto de divulgação – em que a personagem aparece com rosto pintado de verde e amarelo de forma irônica – ia contra a ideologia dos clientes que votariam em Bolsonaro. “Somos constantemente ofendidos nas redes sociais com graves ameaças de radicalistas. Mas não serão jamais motivos para desistirmos”, diz o ator.

“Relembramos uma declaração da atriz Carrie Fischer: ‘Pegue seu coração partido e transforme em arte’. Vivemos o início de mais um processo ditatorial com novas vestimentas e os mesmos comportamentos – e devemos estar atentos e fortes. O objetivo do espetáculo é que as pessoas se enxerguem na personagem, com a bivalência de ser humano e monstro”, agrega ele. “O espetáculo é um grito de socorro.”

O Festival Verão sem Censura faz um contraponto à crescente censura à criação e às produções culturais no brasil. Parte significativa da programação é composta por espetáculos que foram censurados ou criticados pelo governo Jair Bolsonaro. O festival conta com a participação de grupos e artistas de diversas linguagens artísticas, como Arnaldo Antunes, Deborah Secco e seu filme Bruna Surfistinha, o longa A Vida Invisível, de Karim Ainouz, além de Bete Coelho e Dj Rennan da Penha.