Sem categoria

Ruth de Souza (1921-2019), uma precursora 

O Brasil precisa reconhecer seus heróis, seus mitos de verdade. Aqueles e aquelas cuja vida é um legado para outros brasileiros. Ruth de Souza nasceu pouco mais de 30 anos após a abolição da escravidão de um país que não adotou qualquer política pública para os ex-escravos e lançou a condições de miséria e pobreza milhões de negros.

Por Diego Iraheta*

Ruth de Souza - Coleção Ruth de Souza (IMS)

Filha de lavadeira e lavrador, tinha 11 anos quando teve contato com um filme – do Tarzan. Sem mesmo entender o que era, apaixonou-se à primeira vista pela sétima arte. O sonho da menina negra e pobre do Rio de Janeiro virou fazer cinema.

“Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros. Muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas eu sabia que ia fazer; como, eu não sabia”, contou Ruth ao projeto Memória Globo.

Pois a jovem Ruth participou de uma das primeiras iniciativas culturais de resistência dos negros organizadas pelo ícone Abdias do Nascimento – o Teatro Experimental do Negro, que descobriu existir por meio de uma revista. Tornou-se a primeira atriz negra a encenar uma peça no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1945. De lá, foi para as telas de cinema e da TV.

Aos 32, foi indicada a melhor atriz no Festival de Veneza por sua participação no filme Sinhá Moça. Concorreu com divas internacionais como Katharine Hepburn. Divas como ela.

 
 

“Ela veio antes de todas nós”, homenageou a atriz Taís Araújo pelo Instagram. Em 2004, Taís foi uma das primeiras protagonistas de novela TV Globo – mas 35 anos depois de Ruth ter estrelado A Cabana do Pai Tomás. “Agradeço por abrir caminhos”, resumiu Adriana Lessa, outra atriz de destaque dos folhetins globais.

Ruth de Souza morreu ontem no Rio de Janeiro aos 98 anos. Que honremos esta precursora, que encantou plateias e audiências e inspirou milhões de brasileiros.

* Diego Iraheta é editor-chefe do HuffPost Brasil