“A Felicidade era um lugar estranho, lá, os meninos, após a chuva comiam o
arco-íris e saiam coloridos pela rua Jogando futebol. O futuro era decidido
no par-ou-ímpar e o passado simplesmente não existia”.
(Sergio Vaz)
Publicado 29/10/2007 18:17 | Editado 13/12/2019 03:30
No meu tempo de moleque ninguém tinha uma profissão em mente para se apegar
ao futuro, todos, sem exceção queriam ser jogadores de futebol. E olha que
naquela época nem dava tanto dinheiro assim. Mas não sei se pelo romantismo,
pela magia ou simplesmente pela falta de perspectiva… sei lá, só sei que
todos nós queríamos ser jogadores de futebol. Eu apesar da idade confesso
que ainda quero.
Mas tempo passou, o Morumbi e o Maracanã envelheceram em mim e a memória,
este estádio vazio, toma dribles maravilhosos da lembrança, e tudo que me
lembro foram os gols perdidos. Perdi muitos gols cara a cara com o goleiro,
por isso não sou jogador, por isso não sou doutor. Tomei muita vaia do
destino.
Não lembro de nenhum amigo desta época que tenha sequer passado na peneira
de algum time profissional, poucos viraram doutores e uns tantos não lerão
este artigo, se é que vocês me entendem.
A Violência sempre fez muitas faltas no nosso jogo, e quase todas por trás.
Dói só de lembrar.
Apesar dos intervalos, lembro-me de partidas inesquecíveis, dessas que
começavam pela manhã e seguiam tortuosas pela tarde, interrompidas apenas
pelo almoço e o café das três.
São momentos inenarráveis passados com estes parceiros de time, esses
meninos sábios e imortais, sem presente e sem futuro deslizando os pés
descalços pelo chão.
Hoje em dia, aquele campinho de terra que esculpimos com as nossas próprias
mãos é um grande cemitério, e muitos deles estão ali, enterrados com seus
sonhos, antes mesmo do jogo acabar. Outros, por desrespeitarem as regras
cometeram pênaltis desnecessários (?), e, por ordem dos juízes, foram mais
cedo para o chuveiro.
Para minha tristeza muitos ainda continuam a cometer faltas, sem medo de
tomar cartões vermelhos ou amarelos, sem se importar com a força do
adversário, sem se importar com a cor da camisa, sem se importar com os
derrotados, se importando apenas em vencer, e vencer a qualquer preço. Por
isso, muitos são substituídos com o jogo em andamento, alguns, antes mesmo
de tocar na bola.
Às vezes, quando a dor sai do vestiário e a saudade entra em campo, faço um
minuto de silêncio, deixo uma lágrima rolar e jogo por eles a prorrogação.
Sérgio Vaz