Urariano Mota: Viva Elis! Elis viva!

Numa constelação de grandes cantoras brasileiras, Elis Regina era única

Em 19 de janeiro de 1982, uma de nossas melhores intérpretes da canção nos deixou. Parece que foi ontem, ou mesmo hoje de manhã. E para tão grande cantora, no Google, quando digitamos “Elis Regina”, aparecem as perguntas:

  • Quais foram os maridos de Elis Regina?
  • Por que Elis Regina morreu?
  • Onde nasceu Elis Regina?
  • Quem criou Maria Rita filha de Elis Regina?
  • Quem criou os filhos de Elis Regina?

Mas a necessária pergunta não se faz: Quem cantava como ela no Brasil ou no mundo?

A resposta é ninguém. Numa constelação de grandes cantoras brasileiras, que vem de Dalva de Oliveira, Ângela Maria, até alcançar Gal Costa e Elza Soares, essa última, Elza, origem e presente de grandes cantoras do Brasil, Elis Regina era única. Pelo repertório, pelos novos compositores que ela revelou como Milton Nascimento, Fagner, João Bosco e Aldir Blanc, entre outros, ela, sem ser a imensa Ella, Fitzgerald, possuía a técnica, a arte e o sentimento e tragédia do que cantava. Das mais felizes às mais dramáticas composições. E nesse particular, Elis Regina era a grande atriz da música popular brasileira, porque representava qualquer papel, do dramático ao cômico com igual talento

E no meio de tantas melhores lembranças, aqui vai uma canção com Elis, ou melhor, de Elis, que ela fez sua. Uma que eu narrei no romance A Mais Longa Duração da Juventude, em uma página:

Chovendo na Roseira. Ao confrontar há pouco o sentido da memória, pude ver que levamos para um mesmo espaço acontecimentos de tempos diferentes. Isso quer dizer, os anos às vezes se confundem, unificados e na unidade do sentimento. Assim, guardei como de 1972 a manhã de um sábado em que ouvi Chovendo na Roseira em 1974. Por que a canção na voz de Elis Regina veio como se fosse de 1972? Entendo, ou procuro entender o amolecimento elástico do coração. É que na mesa do bar no Pátio de Santa Cruz ouvimos a voz de Elis e o piano de Tom Jobim. Ficamos suspensos na manhã de 1974 como se cantássemos em um jardim de pétalas vermelhas. “Olha, está chovendo na roseira, que só dá rosa, mas não cheira”. Vinha um nó na garganta que deixava a gente sem fala, e o empurrávamos para baixo com goles de cerveja. “Adivinhou a primavera.”

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