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Velório com samba: como o “gurufim” resgata a tradição africana

Está acontecendo um gurufim em Macapá. “Seu Malafaia do Cavaco” faleceu, e o mundo do samba segue lhe rendendo homenagens. Nas palavras de um amigo: o gurufim não para!

Gurufim

Na última terça-feira (25), faleceu em Macapá (AP) Dorival Santos Malafaia, com 69 anos de idade. Seu Dorival teve seguidas paradas cardíacas e chegou a ser levado para o Hospital de Emergências de Macapá, onde foi socorrido, mas acabou não resistindo.

Macapaense do Bairro do Buritizal, na zona sul, era conhecido mecânico de motores de carro, da Avenida 1º de Maio. Assim ganhava a vida e assim criou três filhos, mas sua verdadeira paixão era a música.

Autodidata, bem jovem já tocava violão quando foi apresentado ao cavaco, quando estabeleceu a parceria com esse instrumento que lhe seria tão importante na vida a ponto de compor seu nome social.

No samba, era aquilo que se conhece por “bamba”, um título informal que denota experiência, carinho e reconhecimento. Um dos fundadores da Escola de Samba Unidos do Buritizal, era um veterano, um pioneiro. Com ele, contam os mais novos, gerações e gerações de meninos foram apresentados ao mundo do ritmo de Cartola e Jamelão.

De origem africana, o gurufim é um velório feito com samba. As comunidades negras, ligadas ao samba do Rio de Janeiro e São Paulo das décadas de 50 e 60, velavam seus mortos dessa maneira: pode até ter choro e vela, mas não faltam histórias do falecido e, é claro, muito samba.

A manifestação foi perdendo força e com o tempo foi reservado somente aos mais importantes sambistas. Foi o que aconteceu, por exemplo, no velório da “madrinha do samba” Beth Carvalho, em maio, no salão nobre da sede do Botafogo, em General Severiano, Rio de Janeiro.

O Gurufim do seu Malafaia do Cavaco ocorreu na mesma noite do dia 25 e se estendeu até o dia seguinte, quando foi realizado o enterro. Mas não parou por aí. Antes mesmo da missa do 7º dia, no domingo (30) já ocorreu outro gurufim em homenagem ao sambista, na mesma Avenida 1º de Maio onde ficava sua casa e oficina. E há pelo menos mais um, marcado por outro grupo de amigos.

“As pessoas que não convivem no meio do samba não sabem o amor que quem toca samba tem. A pérola de despedida é dessa forma, homenageando quem faleceu. Seu Malafaia iria gostar muito que fosse assim” afirmou Rozivan Ramos, o “Rocky do Cavaco”, que tem 38 anos e trabalha como instrutor de auto-escola.

 

O gurufim do Seu Malafaia não foi organizado pela família, mas os parentes tiveram total compreensão com as homenagens que os amigos realizam. “Eles estão organizando tudo”, declarou um dos filhos do Seu Malafaia do Cavaco, Dorinaldo Malafaia, enfermeiro e gestor público.

“No dia do falecimento do meu pai, eu estava viajando a trabalho e, quando cheguei ao velório, o gurufim já estava sendo armado. Eu encaro como um ato de respeito e uma homenagem”, afirma Dorinaldo. “Tem dor da nossa parte e da deles, mas também tem a memória do meu pai que se foi – e eu tenho orgulho que ele tenha cativado tanta gente.”

Da Redação, com informações do SelesNafes.com