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Woodstock, 50 anos: por que o festival ganhou tanta notoriedade? 

Era para ser mais um evento comercial, numa fazenda de uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. Mas o Festival de Woodstock transcendeu o tempo e transpôs fronteiras. Permanece vivo no imaginário popular. Nesta quinta-feira (15), comemoramos 50 anos do mais famoso dos festivais. Mas por que Woodstock marcou tanto?

Por Marcos Aurélio Ruy*

Woodstock

Para a cantora baiana Baby do Brasil, “a força deste evento está na expectativa (que se tinha) de um mundo diferente. Mesmo que o Brasil não tivesse essa abertura, no mundo inteiro ninguém aguentava mais ouvir falar de repressão de guerra” – e de repressão de violência.

Na efervescência dos anos 1960, Woodstock reuniu 32 artistas transgressores, muito afinados à filosofia hippie com o lema “Paz e Amor”, sintonizados com o crescente movimento a favor da paz. Nos Estados Unidos, a juventude se levantava contra a Guerra do Vietnã, que começou em 1956 e terminou com derrota dos norte-americanos em 1975.

Apresentação de Janis Joplin no Festival de Woodstock

O que pensar de um festival de música com os talentos de Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who, Joe Cocker, Johhny Winter e o grupo Creedence? Impossível não ter empatia. Com esses artistas e quase 500 mil jovens de todos os cantos dos Estados Unidos, reunidos numa fazenda por três dias ouvindo música, mesmo embaixo de chuva e sobre lama, os shows foram memoráveis.

Foi em Woodstock que o maior guitarrista que o mundo já viu, Jimi Hendrix tocou o hino nacional norte-americano marcado com sons de bombas, denunciando a intervenção indevida de seu país no longínquo Vietnã no sudeste da Ásia. Imperdível para quem puder assistir de alguma forma.

Muito provavelmente o sucesso desse festival esteja intimamente ligado ao clima de 1969 no qual a juventude se opunha ao patriarcado, deixava os cabelos crescerem e ganhava as ruas em defesa da paz e da liberdade, contra o preconceito e o ódio. Mesmo com todas as limitações desse movimento, havia uma efervescência cultural que trouxe importantes inovações às artes e às lutas para uma sociedade diferente e melhor para se viver.

O hino nacional dos Estados Unidos na guitarra de Hendrix

O filme Aconteceu em Woodstock (1999), de Ang Lee, se fia à visão do proprietário da fazenda onde ocorreu o festival, Max Yasgur. Para ele, “se nos juntarmos a eles, poderemos vencer adversidades que são um problema para o país atualmente, e ter a esperança de atingir um futuro mais pacífico e brilhante”, sobre a magia das apresentações e a sintonia fina com o público. Clima que transpirava música, arte, cultura. Questões essenciais para a predominância da delicadeza e da generosidade.

Também a canção Lay Down (Candles in the Rain, 1970), de Melanie Safka, revela o orgulho da compositora em ter participado do festival e da sua importância como um dos marcos contra a Guerra do Vietnã. “We were so close, there was no room / We bled inside each others wounds / We all had caught the same disease / And we all sang the songs of peace” (Estávamos tão perto, não havia espaço / Sangramos dentro junto com outras feridas / Pegamos a mesma doença / E cantamos as canções de paz).

Lay Down (Candles in the Rain), Melanie Safka

Já Joni Mitchell fez sua homenagem, em 1970, com a bela música Woodstock, onde diz em alguns versos “I came upon a child of god / He was walking along the road / And I asked him, where are you going / And this he told me / I’m going on down to yasgur’s farm / I’m going to join in a rock ‘n’ roll band / I’m going to camp out on the land / I’m going to try an’ get my soul free” (Deparei-me com um filho de Deus ,/ Ele andava pela estrada / E eu lhe perguntei: “aonde você está indo?” / E ele me disse: “Eu estou indo para o Rancho Yasgur, / Estou indo entrar em uma banda de rock’n roll / Estou indo acampar lá fora na terra / Estou indo tentar libertar minha alma".

Tem ainda a animação brasileira Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’roll (2006), de Oto Guerra, baseado em personagens do cartunista Angeli. A obra dá uma noção atualizada da marca indelével do festival nas gerações posteriores.

Assista a Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’roll completo

Claros sinais dos porquês de Woodstock permanecer vivo. Por sentir-se nas vibrações de seus acordes o clima de solidariedade, de amor à vida e a clara demonstração da vontade de superar as mazelas de um presente opressor e violento.

* Marcos Aurélio Ruy, jornalista, é colaborador do Prosa, Poesia e Arte