Ainda que cheio de restrições, o mercado de quadrinhos brasileiros, e o de arte como um todo, é tomado de desbravadores. Durante os anos 50, Ziraldo foi um deles, comandando o início de uma pequena revolução das HQs brasileiras contra os importados na década de 50.
Por Zé Wellington*
Publicado 23/11/2017 13:31 | Editado 13/12/2019 03:29
Com bancas abarrotadas de produtos dos chamados “Syndicates” (que incluíam Mandrake, Gato Félix e personagens da Disney), Ziraldo emplacou a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por apenas um quadrinista, com a Turma do Pererê, que teve grande sucesso, mas foi cancelada em 1964, logo após o início da ditadura militar no Brasil. Antes disso, já tinha passado pela Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo) e pela revista Cruzeiro. Chegou a receber o autor Maurício de Sousa, o criador da Turma da Mônica, em busca de emprego no seu estúdio na época.
Suas duas grandes contribuições para o quadrinho nacional viriam logo a seguir. A primeira foi a participação n’O Pasquim, tabloide que assumiu uma das principais vozes de oposição à ditadura, o que lhe custou uma prisão no dia seguinte ao AI-5. O periódico chegou a vender mais de 100.000 exemplares por semana.
Além d’O Pasquim, é difícil falar de Ziraldo sem a lembrança do Menino Maluquinho. Criado em 1980 num livro ilustrado, se tornou um grande sucesso comercial, adaptado para as mais diversas mídias, como histórias em quadrinhos, televisão, cinema e até música, num álbum com participação de artistas como Herbert Viana, Guilherme Arantes, Milton Nascimento e Rita Lee. O Menino Maluquinho é apenas um de uma extensa galeria de personagens do autor, que conta
ainda com The Supermãe, Bichinho da Maçã, Mineirinho, menino da Lua e Jeremias, o Bom.
Ziraldo não escapou de polêmicas e teve que lidar com a repercussão de declarações feitas para a imprensa sobre homossexualidade e ainda uma série de problemas envolvendo a realização do Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu, em 2003.
Na premiação do prestigiado Troféu HQMIX, o principal prêmio de quadrinhos do Brasil, em 2016, após ser chamado ao palco para uma homenagem, a primeira pergunta de Ziraldo foi: “por quê mesmo que estou ganhando isso?”. O “discurso” do agraciado seguiu com uma sequencia de relatos do autor que mais parecia um stand up de comediante. Sem dúvidas o momento mais divertido do evento. Enfim, a controvérsia é mesmo o sobrenome do meio de Ziraldo, procedida pelo sobrenome de um dos seus principais filhos desenhados: “Maluquinho”.