Campanha ''nem Lula nem Alckmin'' acabou devendo voto

Por Bernardo Joffily


 



Depois de Geraldo Alckmin, do bloco conservador PSDB-PFL, o maior derrotado do segundo turno foi a campanha do voto nulo, defendida por forças que vêem como ''farinha do mesmo saco'' a Alckmin e ao presid

No caso destes últimos, a defasagem é ainda maior, pois no primeiro turno eles fizeram campanha, basicamente, para a senadora Heloísa Helena (PSOL-PSTU-PCB), enquanto o voto nulo só foi pregado por segmentos não organizados partidariamente. É o que mostram os números da apuração.



De cada três votos nulos, um mudou



No primeiro turno os votos nulos para presidente da República somaram 5,96 milhões, ou 5,68% do total. No segundo turno, com a apuração praticamente encerrada, eles ficaram em 4,09 milhões, ou 4,71% do total. Houve portanto um recuo: de cada três que votaram nulo no dia 1º, um abandonou a posição neste domingo.



Será então que aumentaram os votos em branco? A pergunta tem sentido, já que, entre os adeptos do ''Nem Lula nem Alckmin'', apenas o sempre esganiçado PSTU explicitou uma diretiva expressa pró-voto nulo. Outros defensores do mesmo conteúdo, colocados na defensiva pela virulência do segundo turno, deixaram a forma do voto em aberto.



Foi este o caso de tendências do PSOL como o MES, da deputada reeleita Luciana Genro (RS), e da CST, do deputado não-reeleito Babá (PA-RJ). Foi também o caso da Executiva do PSOL e da própria HH, que em artigo no jornal Folha de S. Paulo preferiu manifestar-se por metáforas: ''Não compartilhamos os projetos da direita neoliberal assumida ou enrustida, da traição de classe e da vigarice política'' (clique para ler Falta espessura política ao ''bom combate'' de Heloísa).



Entretanto, também os votos brancos diminuiram sensivelmente. Dia 1º eles foram 2,87 milhões, ou 2,73% do total de votantes. Dia 29, baixaram para 1,35 milhão, ou 1,33%, uma queda para menos da metade.



Uma hipótese provável



É razoável supor que estes mais de 3 milhões de eleitores, que votaram nulo ou em branco no 1º de outubro, mas reconsideraram sua posição, foram sensibilizados pela polarização entre dois projetos opostos que se explicitou melhor nas quatro semanas entre as duas votações.



As tabulações completas das pesquisas de boca de urna, ainda não disponíveis, provavelmente indicarão que estes votos migraram na sua maioria para Lula. Eleitores indignados, com as denúncias da mídia sobre o ''Mensalão'' e companhia, recorreram ao voto de protesto no primeiro turno porém, ao confrontarem Lula com seu desafiante de direita, optaram pelo primeiro.



Um argumento irrespondível



Este debate deve pegar fogo, não no PSTU, de há muito surdo ao que dizem as urnas, mas sobretudo entre as tendências do PSOL. Os números dão um argumento irrespondível àqueles que, no interior do novo partido, recomendaram o voto em Lula, ainda que crítico, para afastar a volta da direita tucano-pefelista. Não há como medir o desempenho desta última facção do partido, pois nenhuma pesquisa tentou separar os ''votos críticos'' dos demais votos em Lula. Porém o fiasco da facção contrária e do PSTU é mensurável, explícito e enorme. Eles sairam das urnas deste domingo devendo votos.



Durante a campanha, o PSOL praticamente não funcionou enquanto tal, com cada tendência interna pedindo votos para seus candidatos, seguindo a sua agenda e propondo a sua plataforma — já que o partido e sua candidata não lograram lançar um programa. Agora, virão as plenárias de militantes e as reuniões das instâncias formais psolistas. E nelas deve se impor a discussão do balanço da primeira, mas profunda, crise da sigla que teve sua existência legalizada no ano passado.