Crise e ocupação na USP: a apuração que a mídia não fez

Por Luiz Weis
Primeiro, foi a Folha. Em editorial de 26 de maio, o jornal chamou a atenção para o papel da reitora Suely Vilela no “nó da USP”. Dela, resignou-se o jornal, “não se pode esperar muito mais do que seu desempenho até aqui sugere –

Hoje (9), foi o Estado, no editorial “A USP sob controle dos invasores”. Depois de acusar o governador José Serra de se comportar como um “manietado observador dos acontecimentos”, o jornal partiu para cima da Magnífica, como o protocolo manda tratar uma reitora. [Se for homem, é Magnífico, naturalmente.]


 


“Desde a primeira hora da crise”, sustenta o editorial, “a reitora mostrou despreparo, incoerência, falta de senso da liderança e da autoridade indissociáveis do exercício do cargo”. Em seguida, o jornal explica por que em 15 linhas de texto, incluindo a reconstrução de um episódio especialmente constrangedor para ela.


 


Os editoriais refletem a disseminada impressão, na USP e no governo, de que a reitora não deu uma dentro desde a invasão do seu local de trabalho, já lá se vão 37 dias. Cartas de professores aos jornais batem na mesma tecla.


 


Mas ela não caiu do céu na cadeira mais importante da mais importante universidade sul-americana. Foi a preferida da sua comunidade – docentes, funcionários e alunos – e essa preferência foi ratificada pelo então governador Geraldo Alckmin.


 


O processo eleitoral


 


Como se deu, porém, a sua eleição? Diante do nó uspiano e das críticas ao seu desempenho, a questão não é propriamente bizantina. Os jornais paulistas bem que poderiam fazer uma visita aos bastidores da sua vitória.


 


Não é por nada, não. Apenas para prestar um serviço aos muitos milhares de leitores que só agora tomaram conhecimento do nome Suely Vilela. A mídia poderia lembrar, para começo de conversa, como se elegem os reitores da USP, Unicamp e Unesp – as universidades estaduais paulistas.


 


O processo tem duas etapas. Na primeira rodada, votam os membros das congregações das faculdades e institutos, além dos integrantes das comissões centrais de pós-graduação, graduação, pesquisa, cultura e extensão, e ainda do Conselho Universitário.


 


Na segunda fase, votam apenas esses últimos. Cada qual escolhe um nome da lista de candidatos apontados na primeira etapa. Estes devem ser eleitos necessariamente por maioria absoluta, em tantos turnos quantos forem necessários para se chegar lá.


 


A lista com os três mais votados segue então para o governador. Ele é livre para escolher quem quiser, mas, por tradição e demonstração de respeito pela autonomia universitária, sempre fecha com o primeiro colocado.


 


Os alunos e a vitória


 


A então pró-reitora de pós-graduação da USP, Suely Vilela, obteve a maioria absoluta no conselho já no turno inicial. Se isso não tivesse acontecido, as suas chances encolheriam, porque muito provavelmente os eleitores dos seus dois principais competidores descarregariam os votos num deles, feitos os devidos conchavos.


 


E aí está o sumo da história, segundo a versão de um insider. Percebendo o risco de a candidatura Suely fazer água, seus partidários teriam se posto em campo para cabalar os votos dos representantes estudantis, que haviam resolvido se abster, tanto que ficaram do lado de fora do recinto onde se reuniam os eleitores-conselheiros.


 


Em cima da bucha e graças a um eficaz trabalho de boca-de-urna, conseguiram virar os votos da rapaziada. Se assim se passaram as coisas, a professora Suely Vilela deve aos estudantes ter ascendido à condição de Magnífica Reitora da Universidade de São Paulo.


 


Será que o episódio não vale uma checada?