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Presidenciáveis do Chile investem na internet

No Chile, a propaganda política se multiplica com o uso das redes sociais da internet, como Facebook e Twitter, pelos pré-candidatos à presidência do país. Eles sabem que, na hora da campanha, todos os meios de comunicação são bem-vindos e não têm ficado indiferentes a estes fenômenos da web.

Todos os candidatos possuem contas nestas comunidades virtuais e atualizam seu “status” constantemente. Eles aproveitam o sucesso das comunidades para expor opiniões sobre política e temas cotidianos e até fazer piadas.

O candidato pelo partido da Renovação Nacional, Sebastián Piñera, por exemplo, já tem mais de dez mil seguidores no Twitter (clique aqui), enquanto seu opositor Marco Enríquez-Ominami, candidato independente, supera a marca de nove mil internautas (veja).

O governista Eduardo Frei, do Democrata Cristão, possui uma equipe que cuida de sua página no Twitter (clique aqui), onde mais de mil pessoas acompanham seus recados. Os três também estão no Facebook, rede social com mais de quatro milhões de usuários maiores de 18 anos no Chile.

O sociólogo brasileiro Sérgio Amadeu da Silveira, doutor em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo, diz que o uso da internet está crescendo no debate político desde 2004, mas que, a partir deste ano, houve também a expansão das redes sociais.

“Isso ganhou uma dimensão muito grande na campanha do Obama, por exemplo. Ele usou o Twitter como elemento catalisador onde empregou outras redes sociais, que serviram para animar o debate político. O que está acontecendo no Chile, e vai acontecer no Brasil, é isso”.

O diretor da empresa de marketing político Storm Chile, Pablo Matamoros, encarregado da campanha presidencial de Piñera, argumenta que as campanhas políticas digitais são necessárias “porque, hoje, a tecnologia chegou para aprofundar as mudanças na forma como nos relacionamos e organizamos. Isto inclui a democracia e as campanhas, pois as novas tecnologias impõem o cenário político 2.0".

De acordo com Matamoros, o uso da internet nas campanhas contribui para uma nova organização de distribuição de mensagens, transformação de seguidores em ativistas, promoção de um diálogo cidadão, entre outras vantagens.

Análise do conteúdo

Um estudo realizado pelo Emol – diário virtual do jornal chileno El Mercurio – solicitou a dois especialistas que avaliassem as páginas na internet dos pré-candidatos à presidência, segundo os critérios de usabilidade, emprego de redes sociais, nível de participação do usuário, emprego de multimídia, design, atualização, quantidade e qualidade da informação.

A principal crítica do pesquisador Javier Velasco Marín, que cursa doutorado em Ciências da Informação na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, é que os sites não aproveitam a oportunidade de explorar a plataforma como meio para escutar os cidadãos e gerar um autêntico espaço de diálogo.

Opinião similar tem Juan Carlos Camus, especialista em conteúdos digitais e redes sociais. Ele acredita que "não se nota uma presença clara dos candidatos na rede, já que, salvo exceções, não se fomenta a ação entre quem visita os sites".

Quanto à informação útil e importante que cada candidato apresenta – ou deveriam apresentar – em sua página na web, como propostas, biografias ou bases programáticas, ambos afirmam que ela é mostrada de forma pouco clara ou simplesmente deixada de lado.

Para o jornalista e pesquisador Arturo Arriada, mestre em comunicação digital, as ideias centrais de uma campanha política "nos permitem entender as leituras do país feitas por quem pretende governá-lo".

Ele explica, por exemplo, que o governista Eduardo Frei não se mostra como ex-presidente, optando em sua plataforma on-line por apelar ao sentimento nacional. "O Chile ganha com Frei": é sua máxima disponível em http://www.efrei.cl/.

Na mesma lógica alheia aos partidos, em http://www.pinera2010.cl/ o candidato da direita fala de um "Chile com tudo, com todos". Com uma linguagem moderna, e menos recursos que Piñera e Frei, Marco Enríquez-Ominami se define como “o futuro" e afirma: "Porque o Chile mudou", em http://www.marco2010.cl/.

Com o advento das redes sociais, os atuais candidatos têm de aprender rápido a nova linguagem usada na política 2.0, mais próxima, recíproca e interativa do que a das grandes concentrações e dos anúncios televisivos. Para tanto, os presidenciáveis podem soltar um pouco as amarras de suas campanhas e delegá-las, em parte, a uma cidadania ansiosa por participar delas.

Debate com ajuda da internet

Quando a internet e a política começaram seu romance, há cerca de dez anos, fizeram a promessa mútua de fomentar a participação cidadã chilena. Os otimistas desta relação enxergavam na rede a possibilidade de cidadãos e políticos promoverem mudanças sociais por meio do intercâmbio de informação. Os pessimistas acreditavam que o acesso à internet – além de diminuir ainda mais a qualidade do debate público – limitaria as possibilidades de participação política.

Arturo Arriagada, jornalista e pesquisador da Universidade Diego Portales, afirma que, "um pouco antes do triunfo de Barack Obama – agora ícone dos otimistas -, os gigantes da mídia CNN e YouTube organizaram um debate entre os candidatos democratas e republicanos que disputavam a nomeação de seus partidos. O mundo viu pela televisão como eles, um a um, respondiam às perguntas de 30 segundos em vídeo que cidadãos comuns enviaram à página na web. Era a convergência de meios – televisão e internet – forçando os limites da democracia representativa".

A quatro meses da eleição, todos os candidatos à presidência do Chile confirmaram a participação no primeiro debate com estas características no país, organizado pelo portal Terra e pela rádio Cooperativa. Espera-se que eles não voltem atrás no último momento e que os organizadores levem em conta a experiência da CNN e do YouTube, especialmente em relação aos limites e expectativas da participação on-line.

Internautas chilenos

O Chile tem hoje mais de 6 milhões de usuários de internet, com média de exposição mensal de 23,7 horas. Com isso, 12 dias do ano são dedicados a navegar pela rede. Os homens são maioria: representam 51% das visitas e transações virtuais.

Também é interessante destacar que a população de internautas chilenos é mais adulta que a média da região: 70% têm mais de 25 anos e, destes, 11% têm mais de 55. Os sites mais visitados são os de geração de conteúdo cidadão e os de redes sociais, como Facebook e Twitter.
Não se sabe ainda quantos destes "fãs" transformarão seus votos virtuais em reais em dezembro, mas trata-se de um indicador inequívoco de que as paixões políticas já correm soltas na rede.

Fonte: Opera Mundi