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Zelaya: golpistas dariam tudo para continuar no poder

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse neste domingo (18) que os golpistas que o derrubaram no dia 28 de junho dariam tudo o que têm para permanecer no poder. "Eles dariam tudo o que têm para ficar no poder, porque eles obedecem a uma coleira econômica que asfixia Honduras desde os anos 90", disse Zelaya à Agência Efe por telefone a partir da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está abrigado desde 21 de setembro.

"Dos anos 90 para cá, houve um giro, o ser humano passou a ser mercadoria ou um número nas estatísticas, passou a acoplar-se às políticas neoliberais", disse o presidente deposto.

Para Zelaya, os "grupos econômicos" que "impuseram" o presidente de fato, Roberto Micheletti, "privatizaram hoje os poderes do Estado", os que "estão sendo destruídos".

"Aqui em Honduras não há separação de poderes, têm o mesmo diretor neste momento, que é Micheletti", afirmou Zelaya, que definiu o governante de fato como "um aprendiz de ditador".

Quando perguntado sobre se voltaria ao poder sem o apoio do Parlamento, da Corte Suprema de Justiça, da Procuradoria, da iniciativa privada e de outros setores, Zelaya respondeu que "isso sempre ocorreu, não estranharia governar sem apoio de ninguém".

Segundo o presidente deposto, o "grupo econômico" que decidiu por sua deposição "ordenou às Forças Armadas" para que o tirassem do país.

"Ordenaram que me tirassem do país, falsificaram minha assinatura, abriram um julgamento por delitos que não cometi", disse Zelaya, quem completa na próxima quarta-feira um mês na embaixada do Brasil.

O presidente deposto contou que o tempo que está na sede diplomática brasileira, onde tem a companhia de quase 50 pessoas, "foi difícil" devido às investidas de policiais e militares. Mas, segundo ele. isso não o intimida. "Nosso espírito é forte. Venho do campo e estou acostumado à luta. Ao retornar a Honduras, vim demonstrar minha inocência e arriscar minha vida porque é a única coisa que posso dar ao povo hondurenho. Estou firme e não tenho medo do que está acontecendo".

Segundo Zelaya, as forças de segurança não os deixam dormir, com ruídos, ligações telefônicas, ameaças com franco-atiradores e outras ações.

Zelaya diz que continua esperando que a crise política em seu país se resolva e enfatizou que não acredita em Micheletti.

Diálogo "prestes a morrer"

Zelaya afirmou que o diálogo entre seus representantes e os do governo interino se encontra "In articulo mortis" (a ponto de morrer), acredita que o Congresso Nacional deve se pronunciar sobre seu futuro político já que foram os congressistas que o destituíram do poder mediante um decreto publicado após sua expulsão do país, em 28 de junho.

O líder deposto deu prazo até segunda-feira para que o governo interino de Roberto Micheletti estude e aceite a última proposta apresentada por sua delegação de negociadores em Tegucigalpa.

Zelaya ainda afirmou que caso um acordo não seja alcançado entre as duas partes, as eleições marcadas para o dia 29 de novembro não serão reconhecidas.

"Insisto que o país continua numa crise profunda porque o povo não aceitou o golpe de Estado. A comunidade internacional desconheceu o processo eleitoral. As forças políticas opostas ao regime já disseram publicamente que não reconhecem o processo porque não traz nenhuma garantia de que as eleições serão transparentes", disse.

"Eu não sou o problema, sou a solução do problema. Legalizo as eleições, garanto a transparência do processo eleitoral e a paz retorna ao país", garantiu.

Fonte: EFE e BBC