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"Estamos numa guerra econômica"

"Façam gritar a economia", escreveu Henry Kissinger numa nota às forças da CIA envolvidas na tentativa de derrubar o presidente Salvador Allende do Chile no início dos anos 70.

por Eva Golinger*

Posteriormente, a sabotagem econômica abateu-se sobre aquele país sul-americano, quando os trabalhadores entraram em greves e os homens de negócios aumentaram os preços, fecharam as portas temporariamente e provocaram uma enorme inflação, criando um clima geral de instabilidade que levou ao golpe de estado de 1973 que derrubou Allende.

A mesma estratégia foi aplicada na Venezuela em 2002. Um golpe de estado que teve um êxito efêmero e depois fracassou, foi seguido por uma sabotagem econômica que paralisou a indústria petrolífera e esgotou os produtos de consumo básico da nação, provocando um prejuízo de mais de 20 bilhões de dólares americanos à economia, mas que não conseguiu afastar Chávez do poder. Os grupos de homens de negócios, de trabalhadores, dos meios de comunicação e políticos que apoiaram o golpe e a sabotagem receberam financiamento direto e apoio de Washington e dos seus organismos, incluindo a USAID, a National Endowment for Democracy, o International Republican Institute e o National Democratic Institute for International Affairs.

Em 2007, tentaram de novo, provocando a escassez dos principais produtos a nível nacional, o que fez disparar a inflação, ao mesmo tempo que aproveitaram os protestos nas ruas e atrairam a atenção dos meios de comunicação internacionais para retratar o governo de Chávez como ditatorial, repressivo e em crise.

O antigo secretário de Estado dos EUA, Lawrence Eagleburger, explicou a estratégia e o papel dos EUA nessa época à Fox News, "a capacidade [de Chávez] para atrair o povo venezuelano só funciona enquanto o povo da Venezuela reconhecer alguma possibilidade de um nível de vida melhor. Se, a certa altura, a economia ficar mesmo má, a popularidade de Chávez no país certamente diminuirá e, para já, essa é a única arma que temos contra ele e que devemos usar, ou seja, os instrumentos econômicos para tentar fazer com que a economia piore ainda mais, de modo que o seu poder de atração no país e na região se afunde".

Eagleburger, que também foi consultor do presidente George W. Bush nessa altura, continuou afirmando que "tudo o que pudermos fazer para lhes dificultar a economia neste momento é uma boa coisa, mas façamo-lo de uma maneira que não nos ponha em conflito direto com a Venezuela, se o pudermos fazer".

Sabotagem

Pouco depois destas afirmações de Eagleburger, a economia da Venezuela recuperou muito. Mas foi a rápida nacionalização do governo de Chávez de diversas indústrias e empresas, juntamente com uma firme ação legal contra os negociantes que açambarcaram produtos e aumentaram preços ilegalmente que salvaram o país da recessão. O ano de 2007 na Venezuela foi extremamente difícil, até o papel higiênico era difícil de encontrar, assim como alimentos básicos como o açúcar, o leite, a farinha e o café. Mas não era que não houvesse esses produtos no país. Descobriram-se toneladas de produtos, escondidos dos consumidores em armazéns pertencentes a empresas nacionais e transnacionais do país. Outros produtos foram transportados ilegalmente para fora das fronteiras, para a Colômbia ou Panamá, para revenda a preços mais altos.

Durante os últimos anos, a sabotagem continuou em vagas sucessivas. Por vezes desaparece o açúcar das prateleiras dos supermercados, provocando o pânico, outras vezes é o leite, ou a farinha de milho, os guardanapos ou o feijão. Depois, encontram-se quantidades enormes desses produtos em contentores ou armazéns pertencentes a uma empresa privada ou sob o controle de qualquer funcionário governamental corrupto.

Ainda há pouco tempo, o Sebin, órgão de informações da Venezuela, descobriu 32 toneladas de produtos alimentares em decomposição, incluindo óleo, café, açúcar, manteiga, arroz, massas, carne e leite, dentro de 1 300 conteines estacionados em Puerto Cabello, na costa Norte-Centro. Os produtos destinavam-se à venda nos mercados subsidiados pelo governo, Mercal e Pdval, mas funcionários corruptos tinham-nos deixado ali propositadamente para apodrecerem a fim de provocar escassez. Já foram detidos diversos funcionários governamentais que estão sob investigação quanto ao seu papel neste e noutros atos de corrupção e sabotagem na indústria alimentar.

"Guerra à corrupção", declarou o presidente Chávez na quarta-feira, acrescentando que "são vícios do passado, temos vindo a descobrir muitos funcionários públicos envolvidos em corrupção e vamos investigar e apresentá-los à justiça. Aqui ninguém está protegido da corrupção, quem lhe sucumbir, sucumbe". Chávez revelou que já tinham sido julgados e presos por corrupção na indústria alimentar nos últimos anos mais de 30 funcionários públicos.

Guerra econômica

Num evento na quarta-feira numa nova instalação de processamento socialista, a Diana Oil, o presidente Chávez respondeu aos críticos do setor privado, minimizando as suas acusações. "Dizem que Chávez está destruindo o país, que os trabalhadores não têm capacidade para gerir empresas e que a produção gerida por trabalhadores é uma ideia maluca. Dizem que o governo destrói todas as companhias que gere".

Chávez também apelou a uma resposta ao que considera como uma "guerra econômica aberta" contra o povo e a Revolução. "Apelo à verdadeira classe trabalhadora da Venezuela que lute nesta guerra econômica contra a burguesia", exclamou, acrescentando, "eu nasci para esta batalha. Eles declararam a guerra econômica contra mim e eu apelo a todos os trabalhadores que se juntem a mim na luta para apoiar a nossa economia".

O presidente venezuelano dirigiu palavras especiais a Lorenzo Mendoza, o dono de uma das maiores produtoras e distribuidoras de alimentos e bebidas do país. Um dos homens mais ricos da Venezuela e um multimilionário Forbes, Mendoza dirige as Empresas Polar, que produzem e distribuem produtos como a cerveja Polar, a Pepsi-Cola e todo o tipo de sucos, vinagres, molhos, gelados, cereais, enlatados e comidas congeladas.

Chávez respondeu diretamente às afirmações de Mendoza de que o presidente venezuelano está destruindo o país, afirmando, "aceito o seu desafio. Vamos a isso. Você com os seus milhões e eu com a minha moral. Vejamos quem dura mais tempo, você com a sua Polar e as suas riquezas ou eu com o meu povo e a dignidade de um soldado revolucionário". Chávez também avisou Mendoza que se a companhia dele continuar a açambarcar produtos, a especular e a violar as regulamentações de preços, as Empresas Polar poderão ser nacionalizadas.

"Não tenho medo de nacionalizar a Polar, Mendoza, por isso tenha cuidado. A lei é a lei", declarou o chefe de estado venezuelano.

A Polar tem sido uma das principais companhias a fomentar a escassez de produtos no país durante os últimos anos, açambarcando bens de consumo nas centenas de armazéns que possui por todo o território nacional até se gerar suficiente pânico e descontentamento no país. Depois os produtos são lançados no mercado a preços mais altos, violando os regulamentos financeiros, provocando a inflação e tentando debilitar a economia.

Mas esta semana o presidente Chavez apelou a todos os setores, privados e público, para que resistam e combatam esta guerra econômica. "Estamos a trabalhar para o bem-estar de toda a gente, mesmo das classes mais altas e dos negócios privados. Ninguém estará estável enquanto o resto do país não estiver, por isso trabalhemos todos para isso."

Apesar da turbulência econômica que afeta a Venezuela, a taxa de desemprego diminuiu nos últimos anos e a pobreza foi reduzida de 70% para 23% desde 1999.

*Escritora e advogada venezuelana-estadunidense. O original do artigo está em http://www.chavezcode.com/2010/06/we-are-in-economic-war.html . Extraído do sítio português Resistir.info, com tradução de Margarida Ferreira.