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O desafio de Marina: Retroceder é suicídio

Muito se tem especulado sobre quem Marina vai apoiar no segundo turno. O bom senso indica ser recomendável analisar o que representa a candidata e o alcance do PV. Quer dizer, separar o joio do trigo. Ao que parece, a surpreendente votação foi dada à Marina, pelo que ela representou na conjuntura do primeiro turno, ao se colocar como uma terceira via que rejeitava o passado neoliberal e criticava o presente pelo que ela chamava de lentidão nos avanços sociais.

Por Rogaciano Medeiros*

A maior prova de que não houve “onda verde” alguma, como a mídia tentou “vender” para a sociedade, é o fato de que o excelente desempenho da candidata nas urnas teve pouca, quase nenhuma, influência na votação dos demais candidatos do partido, fosse para governador, para senador, deputado federal e estadual. Aliás, Marina foi sábia ao afirmar que não haverá decisão única, fechada do PV em apoio a Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB). Omitiu a opção pela neutralidade, embora a divisão na legenda seja inevitável.

Ela sabe perfeitamente que não tem controle sobre a totalidade dos votos que recebeu no primeiro turno e também tem consciência de que muito menos o partido, em um país onde a cultura política sempre foi de preterir os princípios partidários em favor da pessoa, ou seja, do candidato, pode se imaginar dono dos quase 20 milhões de votos recebidos. Assim, sem dúvida alguma, a candidata controla a maior parte do capital eleitoral, bem mais do que a legenda.

A vida costuma pregar peças de deixar qualquer um entre “o inseto e a inseticida”, como dizia um famoso cantor e compositor baiano. É o caso da candidata do PV, Marina Silva, para quem os cerca de 20 milhões de votos que recebeu no primeiro turno da eleição, além de projetá-la como respeitável liderança nacional, a coloca em uma situação, no mínimo, delicada, que vai exigir da senadora pelo Acre muita sabedoria e habilidade, se não quiser se apagar tão rápido quanto foi o brilho que a iluminou para o Brasil no último dia 3.

E aí é que reside o drama de Marina. Não dá para manifestar apoio à Serra, porque para chegar onde chegou, ela construiu uma história de total negação a tudo que o candidato tucano representa. Seria jogar o passado na lata do lixo e se tornar a versão feminina do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que para assumir o poder e justificar a aliança com o então PFL, hoje DEM, e a adesão ao projeto neoliberal que tantos males trouxe ao Brasil, pediu que a nação esquecesse tudo que ele havia escrito e feito até então. Pagou caro, pois hoje é desprezado até mesmo da campanha de Serra.

Assumir uma postura de neutralidade também não é o melhor caminho. Para o PV, menos mal, embora lideranças da legenda já tenham se manifestado sobre a necessidade de tomar posição, sob pena de o partido ser acusado pelo povo de negligência com o futuro do país.

Portanto, para Marina Silva é imperiosa a tomada de uma atitude de responsabilidade e consciência, que mantenha o Brasil na rota do desenvolvimento sustentável ancorado na justiça social e na defesa da democracia. E o único caminho para manter a economia crescendo sem esquecer o bem-estar e a felicidade das pessoas se chama Dilma Rousseff. Mesmo com todas as críticas que ela tem ao governo Lula, o que é perfeitamente natural, Marina está ciente de que escolher Serra será retrocesso para o Brasil e suicídio político para ela.

* Rogaciano Medeiros é jornalista