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Paulo Henrique Amorim: a arapuca do debate da Globo

Os debates na televisão brasileira são irrelevantes – para dizer pouco. E por que? Porque os partidos e os candidatos não confiam na imprensa brasileira e não deixaram jornalistas fazer perguntas, com direito a follow-up.

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada

Candidato não sabe fazer pergunta. Candidato faz pergunta para responder ele mesmo, na volta. Quem sabe fazer pergunta é jornalista isento, sério. Desde que ele tenha o direito a fazer a pergunta seguinte à resposta.

Não adianta um jornalista perguntar sobre a maracutaia da concorrência do metrô de São Paulo e o Serra responder sobre Nossa Senhora da Aparecida. O jornalista tem que ter o direito de ir para a réplica, o follow up: mas, pera aí, santinho do pau oco… a pergunta era sobre a carta marcada da concorrência do metrô que o senhor administrou.

Hoje, no Brasil, realizou-se a proeza de tirar o jornalista do jornalismo. Porque os jornalistas do PiG não prestam. Para evitar desgaste, os partidos e candidatos desidrataram o debate.

Sobra a edição do debate. E aí a Globo é imbatível. Numa boa mesa de edição, a Globo já mudou o rumo de duas eleições, a partir de debates. O mais recente foi em 2006, quando o Ali Kamel produziu sua “finest hour”: levou a eleição para o segundo turno do Lula contra o Alckmin, ao mostrar o dinheiro dos aloprados e a cadeira do Lula vazia no debate da Globo. Ele conseguiu passar a ideia de que o Lula tinha fugido do dinheiro dos aloprados.

É bom não esquecer que o dinheiro dos aloprados nasce das ambulâncias superfaturadas no Ministério da Saúde do Serra, que tinha o Marcelo Lunus Itagiba e o Barjas Negri – gente finíssima. E que, no segundo turno, o Alckmin teve menos votos do que no primeiro – uma das proezas do marqueteiro do Serra.

O outro debate que a Globo manipulou foi em 1989, quando Lula e Collor se enfrentaram na véspera da eleição do segundo turno. Sem direito, como agora, a uma réplica no horário eleitoral gratuito. (Como é que a Dilma foi cair nessa?) O Dr. Roberto mandou editar o debate de forma muito precisa: tudo de bom do Collor e tudo de ruim do Lula. E assim fez a Globo.

Logo em seguida ao resumo do debate – o ruim do Lula e o bom do Collor –, na histórica edição do jornal nacional, Alexandre Maluf Garcia leu um editorial em que dava a entender que votar no Collor significava preservar a jovem democracia de um sapo barbudo furioso.

Está na hora de se livrar do monopólio das pesquisas. E da Globo.

No enterro do Néstor Kirchner, o presidente Lula podia trazer de volta no avião, para dar uma lida, uma cópia da Ley de Medios. E ver o que Néstor e Cristina fizeram com o Clarín, que mandava na Argentina muitas vezes menos do que a Globo manda no Brasil.

Quando for melancolicamente para casa no dia 1º de novembro, Serra não descansará. Montado na UDN de São Paulo e na garupa do PiG, Serra vai liderar a campanha do impeachment do Dilma. A partir do dia 1º. Seu grande aliado nessa eleição, um quadro que honra a campanha udenista, Roberto Jefferson, já avisou: vai jorrar sangue.

Se depender do Serra, a partir de 1º de novembro, jorrará muito sangue. Ele será capaz de ir a Nápoles e ver como jorra sangue de San Genaro. Serra travará uma Guerra “Santa” movida pelo ódio. Ele não descansará. Ate mandar a mulher para um convento em Lourdes.