Sem categoria

Debate sobre clima inclui desenvolvimento econômico e social

Desenvolvimento econômico, conquistas sociais e preservação ambiental. Esse é o trinômio de consenso entre os oradores na abertura do Seminário Internacional sobre Mudanças Climáticas, na manhã desta quinta-feira (11), em Brasília. O evento, promovido pela Fundação Maurício Grabois e Ministério do Meio Ambiente, quer aprofundar o debate da questão das mudanças climáticas para a 16º Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática (Cop 16), no final do mês, no México.

Debate sobre clima inclui desenvolvimento econômico e social

O idealizador e organizador do seminário, Aldo Arantes, ao iniciar os trabalhos, explicou que o evento vai preparar, com elementos sólidos, fundações, partidos e movimentos sociais para o debate dessa questão. E destacou as três vertentes – fundamentos científicos, políticas públicas e movimentos sociais – que serão abordadas nas palestras reunindo autoridades brasileiras e estrangeiras.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, disse que sob a ótica de um partido político como o PCdoB, a questão ambiental é vista como estratégica para o desenvolvimento do país, explicando que não se defende o desenvolvimento a qualquer custo, “mas o desenvolvimento sustentável”.

Direito ao desenvolvimento

Ele lembrou, a exemplo de todos os demais oradores, que o aquecimento global é decorrente da emissão de gases poluentes emitidos pelos países desenvolvidos que, hoje, diante da situação, querem impor aos países em desenvolvimento metas de redução da emissão de gases. O dirigente comunista destacou “o direito dos países ditos periféricos ao desenvolvimento.”

“Países como o Brasil tem o grande desafio do desenvolvimento, evidentemente sustentável, que é parte integral da questão nacional”, avalia Renato Rabelo, acrescentando que “o tema é complexo e exige uma visão de conjunto.” Ele lembrou que a matriz energética foi cerne da primeira e segunda revolução industrial; e a terceira será pautada pela lenta substituição de energias fósseis por energias limpas.

Para isso, ele enfatizou a necessidade do planejamento. “O desenvolvimento sustentável deve ocorrer com o pleno direito dos países e a utilização racional dos meios naturais”, afirmou, lembrando que esse modelo não pode ocorrer nos parâmetros do desenvolvimento atual – do capitalismo, que privilegia os lucros máximos e o uso irresponsável dos recursos naturais.

A solução para as questões ambientais também não está na volta ao passado, afirma Rabelo, para quem é preciso usar toda tecnologia disponível para o desenvolvimento sustentável, usando um exemplo curioso: “o planejamento usado na guerra serve para a vida civil, para evitar transtornos sociais entre os quais se insere os transtornos ambientais.”

Solução difícil

O ministro Samuel Pinheiro Guimarães, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), falou sobre a origem do aquecimento global, resultado da emissão de gases poluentes com uso de combustíveis fósseis. Ele disse que são os países desenvolvidos os principais responsáveis pelo aquecimento global; os que utilizam carvão, petróleo e gás em suas atividades econômicas.

Ele disse que ainda não se sabe todas as consequências do fato, mas as conseqüências afetam todos os países. Para o diplomata, a solução seria mudar a matriz energética, mas essa é um solução difícil porque os combustíveis fósseis são mais barato. “Se mudar a matriz energética, esse países teria condições competitivas negativas com relação aos outros países”, explica.

Para ele, mudar todo o sistema da matriz energética e dos transportes reduziria os empregos e os bens para a população e, as populações pobres, que já são vítimas de fenômenos climáticos extremos, seriam mais prejudicadas. “Essa é uma situação desafiadora e o seminário vai contribuir para definir estratégia e apresentar sugestões para enfrentar o problema que temos que enfrentar”, concluiu o diplomata.

Evitar “doença holandesa”

A fala de Haroldo Lima, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), foi mais otimista e propositiva. Ele lembrou que o desenvolvimento atual do Brasil aumenta a demanda de energia e para corresponder a essas exigências, o governo e a sociedade devem propor medidas proativas de defesa do meio ambiente no enfrentamento dessas questões.

“Precisamos nos desenvolver com os recursos que temos”, disse Haroldo Lima, destacando como vantagens do Brasil o fato de já usar matriz energética limpa, como o etanol e o biodiesel. E defendeu a exploração do pré-sal sob novo marco regulatório e para garantir a industrialização e diversificação da indústria brasileira.

“Temos que tomar medidas preventivas para evitar a ‘doença holandesa’”, enfatizou o presidente da ANP, explicando que “(a doença) se caracteriza pela desendustrialização de países com grande reservas naturais.”

Novo instituto

O presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, disse, na abertura do evento, que as mudanças climáticas é um dos mais sérios problemas do século 21 porque diz respeito a sobrevivência da população e requer o compromisso de todos os povos. E que o aquecimento global vai ter conseqüência na vida das pessoas principalmente entre os povos mais pobres.

Ele fez críticas ao capitalismo pela busca voraz por lucro e defendeu mudanças profundas na sociedade, enfatizando que “somente com a construção de uma sociedade socialista é possível conseguir solução definitiva para a crise ambiental”.

E anunciou que, no final do evento, será lançado o Instituto Nacional de Pesquisas e Defesa do Meio Ambiente (INMA), que visa aprofundar a discussão sobre desenvolvimento sustentável, compatibilizando preservação ambiental, desenvolvimento econômico e conquistas sociais. “Não se pode defender desenvolvimento predatório, mas não pode esquecer as necessidades das pessoas”, disse Adalberto.

De Brasília
Márcia Xavier