Metalúrgicas debatem igualdade de direitos

A mulher começa a romper com os conceitos de submissão para ser protagonista das suas lutas. As trabalhadoras buscam a inserção nos espaços legitimados dentro da sociedade para discutir a igualdade de direitos e temas importantes para a sua vida profissional e pessoal. Essa foi a tônica da abertura do I Encontro das Trabalhadoras Metalúrgicas de Caxias do Sul e Região, que ocorreu nos dias 20 e 21/11, no Samuara Hotel. O seminário teve representação de operárias de 31 empresas.

I Encontro das Trabalhadoras Metalúrgicas de Caxias do Sul - Diva Velho/Divulgação

A diretora do Departamento Feminino do Sindicato dos Metalúrgicos, Eremi Melo, que coordenou os trabalhos, destacou a importância de as mulheres assumirem a luta pela redução da jornada de trabalho, porque cumprem a dupla jornada. "Tivemos uma grande conquista ao elegermos Dilma a primeira mulher presidente, mas só isso não basta. Temos de participar das decisões da sociedade", pregou Eremi ao defender que é preciso lutar ainda por avanços da presença feminina na política.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e deputado federal eleito Assis Melo (PCdoB) ressaltou a importância do encontro ao mencionar delegações de líderes metalúrgicas de Sindicatos do Rio de Janeiro, Betim e Bahia. "A nossa luta é luta de classe. Se não irmos para luta com a participação efetiva da mão de obra feminina, a luta fica manca. Essa parte importante das mulheres precisa estar representada, inclusive na direção do Sindicato para ajudar a definir as políticas para as trabalhadoras, mas tem de participar da luta", pregou Assis.

O parlamentar arriscou a classificar o encontro com o maior do Brasil do último período pela representatividade do encontro. O líder sindical ressaltou ainda a necessidade de creches e criticou a demora de algumas empresas de colocarem em prática a licença-maternidade de 180 dias.

Assis foi além na defesa de direitos e reforçar a luta da entidade pela concessão do auxílio creche para a criança e não a para mãe trabalhadora da indústria. "Essa luta do auxílio creche vem de longe. Se a mãe não é metalúrgica, a criança não tem direito. A luta das mulheres não pode ser só delas. Tem de ser uma luta nossa, dos trabalhadores. Por isso, os homens têm de participar", acrescentou Assis.

A mulher como engrenagem social

Feministas, sindicalistas e políticas, a deputada estadual reeleita Marisa Formolo (PT), a tesoureira do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro e secretária da Mulher da Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (FItMetal), Raimunda Leone (PCdoB), e a secretária nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e próxima titular da pasta estadual do Turismo, Abgail Pereira (PCdoB), colocaram a mulher, em suas abordagens, no eixo na transformação do mundo, como a principal engrenagem social.

Marisa destacou que o encontro começava no dia da consciência negra, reforçando ser essa uma luta ainda em andamento. "O papel da mulher para a transformação do mundo é indispensável. A mulher ainda carrega o traço cultural muito forte para romper com as estruturas institucionais da sociedade. Temos de sair daqui deixando o medo e a submissão para trás."

Já Raimunda enfatizou a importância de ter mulheres ocupando os espaços de poder. "Sabemos o quanto é difícil para organizar as mulheres. A jornada de trabalho nossa é muito extensa. Nós temos filhos. Existem uma série de fatores que impede a mulher de participar da vida política", reforçou Raimunda, ao elogiar a iniciativa do Sindicato. 

A metalúrgica carioca lembrou ainda a luta histórica da mulher por direitos. "As mulheres sequer tinham direito de estudar, de votar, de expor sua sexualidade. As mulheres, os pobres e os negros não tinham direito ao voto. Muitas mulheres lutaram em 1800 lutaram para que outras mulheres tivessem direito à educação. E tornaram esse direito em bandeira. para que a mulher se qualifique." Raimunda empunhou ainda bandeiras como a redução da jornada, sem redução de salarial e igualdade salarial, que ainda é uma realidade distante das mulheres.

Abgail enalteceu o olhar que o Sindicato dos Metalúrgicos tem dispensado às trabalhadoras, ao relembrar que o Congresso da categoria ocorreu no mesmo local, no Samuara, neste ano, e debateu pontos importantes para ampliar os direitos das mulheres. 

"Essa atividade se realiza num momento extremamente importante do nosso país. Tivemos a condição de eleger primeira mulher presidente. Além de dar visibilidade às mulheres, vamos conquistar mais espaços para políticas públicas voltadas às mulheres. Nós, mulheres, tivemos o PAC com Dilma, e o Minha Casa, Minha Vida com um recorte de gênero", ilustrou Abgail, ao defender mais aparelhos públicos como creches e restaurantes comunitários.

Abgail cumprimentou o Sindicato na pessoa de Assis Melo por ser uma entidade classista que sempre priorizou nas questões de dissídio a ampliação dos direitos das mulheres.

Medo de denunciar violência precisa ser vencido

Doutora em Educação, Nilda Stecanela, defendeu a publicização da violência doméstica praticada contra as mulheres e reforçou a necessidade de fortalecer a Lei Maria da Penha, bem com a sua efetiva aplicabilidade.

"É urgente que todos os setores comecem uma educação para construir novas relações de gênero. Temos de caminhar no sentido de desconstrução da violência de gênero". Nilda entende que a mulher precisa se empoderar dos seus direitos e "sair do armário"para denunciar o agressor. Ela também defendeu políticas públicas em parceria entre o público e privado com programas voltados ao agressor.

Ao listar exemplos com base em um estudo de mais de 100 horas de entrevistas sobre violência doméstica, Nilda defendeu que a mulher tem de perder o sentimento de culpa, de encontrar justificativas quando sofre agressão como: Ele é um homem bom. Só fez isso porque estava bêbado.
"O que é coragem senão o enfrentamento do medo?, indagou Nilda.

De Caxias do Sul
Roberto Carlos Dias