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Confrontos no Egito fazem novas vítimas na Praça Tahrir

Os confrontos entre manifestantes contrários e favoráveis ao governo do presidente do Egito, Hosni Mubarak, continuaram na última madrugada pelas ruas na capital egípcia, o Cairo. É o décimo dia de protestos no país. A violência é intensa. Só nesta manhã (03), quatro pessoas morreram vítimas de tiros disparados, elevando para sete o número de mortos nas últimas 24 horas.

As manifestações, que estavam ocorrento em clima de paz, tornaram-se violentas quando, na quarta-feira, partidários de presidente invadiram e cercaram o local dos protestos, partindo para o confronto.

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“Tivemos quatro mortos vítimas de balas, uma delas atingida por uma bala na cabeça”, afirmou o médico Mohamed Ismail, que está em um hospital de campanha montado ao lado da Praça Tahrir, centro das manifestações.

Tiros esporádicos começaram a ser ouvidos às 4h e prosseguiam com o passar das horas. Os disparos, procedentes da Ponte de Outubro, onde permanecem posicionados os partidários de Mubarak, deixaram vários feridos.

Os tanques do Exército que cercam a praça executavam movimentos. Algumas agências de notícias informam que o Exército teria entrado em ação para tentar conter a violência. Segundo informações, tanques conseguiram fazer retroceder alguns dos governistas, impedindo que voltassem a se aproximar dos opositores.

Os veículos militares evitaram que alguns dos partidários de Mubarak cruzassem a ponta estratégica que leva à Praça Tahrir, epicentro da revolta popular, que há 10 dias exige a queda de Mubarak, no poder desde 1981.

Milhares de partidários do presidente reagiram na quarta-feira aos protestos com uma invasão da praça. Em poucos minutos, os dois lados iniciaram uma batalha, com pedras, bastões e chicotes.

No primeiro dia de choques, os soldados não fizeram intervenções, apenas mantendo posição nos pontos de acesso à praça. Mas, na manhã desta quinta-feira, centenas de soldados carregando rifles fizeram uma espécie de cordão humano entre os dois lados.

A Aliança de Juristas Egípcios afirmou em um comunicado que os grupos pró-governo abriram fogo contra os manifestantes. Antes da explosão de violência de quarta-feira, a ONU considerava a possibilidade de 300 mortes desde o início dos protestos.

Segundo o Ministério da Saúde egípcio, mais de 800 pessoas ficaram feridas. Em geral, os ferimentos foram causados por pedras atiradas durante o protesto.

Desculpas governistas

O primeiro-ministro do Egito, Ahmed Shafiq, pediu desculpas pelos ataques de partidários do governo contra os opositores. "Não há justificativa para atacar manifestantes pacíficos, e é por isso que estou pedindo desculpas", afirmou. "Foi um erro fatal."

O premiê prometeu uma investigação "para que todos saibam quem estava por trás deles". Há relatos de que entre os manifestantes pró-Mubarak havia policiais à paisana e pessoas que receberam dinheiro para participar dos protestos.

Também nesta quinta-feira, representantes dos partidos da oposição desmentiram o anúncio oficial do governo egípcio de que haviam começado a dialogar com o vice-presidente do país, Omar Suleiman, reiterando que só aceitaram negociar após a renúncia de Mubarak. O dirigente do partido Ghad, Ayman Nour, disse que "as informações são falsas". "Não haverá diálogo com o sangue nem com os coquetéis molotov. O sangue ainda está derramado no solo da praça Tahrir."

Líderes europeus

Após os choques, líderes de França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália e Espanha divulgaram um comunicado conjunto nesta quinta-feira no qual afirmaram que a transição política no Egito deve começar "agora".

No texto, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, e o chefe do governo espanhol, José Luis Rodrigues Zapatero, fizeram um apelo por uma transição "rápida e ordenada que leve a um governo amplo.

"O processo de transição deve começar agora", afirmaram os líderes, que também condenaram "todos os que encorajam a violência, que apenas vai agravar a crise política no país".

EUA

Na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já tinha dito que a transição deveria começar logo. Ele afirmou ter conversado com Mubarak e que o líder egipcio "reconhece que o status quo não é sustentável e que é necessária uma mudança".

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores do Egito, Hosam Zaki, contudo, afirmou que estes pedidos apenas "inflamarão a situação interna do Egito".

"O que está claro, e o que indiquei esta noite ao presidente Mubarak, é minha convicção de que uma transição ordenada deve ser pacífica e deve começar agora", ressaltou Obama. O líder americano disse ainda que o processo deve incluir "um amplo espectro" de vozes egípcias dos partidos de oposição e deve levar a eleições "livres e justas".

Na quarta-feira, os Estados Unidos condenaram a violência na capital egípcia. "Estamos extremamente preocupados com os ataques contra jornalistas e manifestantes pacíficos. Repetimos nosso forte pedido por moderação", ressaltou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.

Violência

A violência eclodiu em torno das 14h (10h de Brasília) da quarta, quando milhares de defensores de Mubarak se aproximaram da Praça Tahrir para enfrentar os membros da oposição, que na terça-feira prometeram manter seus protestos apesar do anúncio de Mubarak de que não tentará a reeleição nas eleições de setembro.

Sete horas depois, às 19h locais, os grupos rivais se preparavam para um confronto que parecia ter consequências imprevisíveis. Como havia bloqueios nas saídas da praça, os opositores do regime estavam cercados no local sem ter como sair. O clima era de extrema tensão.

Havia centenas de manifestantes com ferimentos na cabeça, causados por pedradas. Como gestos de convocação para uma batalha, homens quebravam calçadas para fazer pedras e portavam barras de ferro de um metro de comprimento.

Havia informações de que, do lado de fora da praça, estavam policiais à paisana possivelmente portando armas de fogo. A todo momento no fim da tarde, explodiam ondas de violência, com correria e gritos. A reportagem do iG ouviu sete tiros de munição não-letal por volta das 16h40 (12h40). Cerca de uma hora e meia depois, duas rajadas foram disparadas. Coquetéis molotov e granadas de gás lacrimogêneo também foram lançados, além de pedras.

Em cada uma das entradas da praça, tanques do Exército marcavam posição com barricadas, enquanto havia centenas de veículos militares no centro da capital. Mas os militares, que na terça-feira prometeram não usar a força contra os manifestantes, permaneceram inertes. Na prática, quem coordenava o controle de chegada à Tahrir eram voluntários, em redundantes barreiras de homens de braços dados, verificando os documentos e fazendo revista pessoal e de bolsas – a fim de evitar a entrada de armas.

Quando os partidários de Mubarak começaram a se aglomerar nesses postos de controle, por volta das 14h (10h de Brasília), com o Exército dividindo os dois grupos, as hostilidades começaram a escalar. Dos gritos com palavras de ordem de lado a lado, passaram aos xingamentos, e logo pedras do tamanho de abacaxis começaram a voar de lado a lado, ferindo quem estava próximo às barreiras.

Logo depois, os manifestantes pró-governo, que no início do dia eram expulsos da praça com alguma truculência, passaram a sair em meio a socos, tapas no rosto e aberta hostilidade. Um jornalista inglês foi espancado ao tentar interromper uma dessas agressões.

À medida que o tempo passava, os ânimos se exaltavam cada vez mais. Havia militantes a favor de Mubarak montados a cavalo e até em camelos, prontos para uma inusitada guerra campal medieval. Também havia relatos de pessoas armadas com facões, facas e barras de ferro. Um helicóptero militar passou a sobrevoar a área.

O centro da praça se esvaziou e a multidão que, antes protestava sem violência, encaminhou-se para três saídas, que concentravam os opositores.

Em meio ao caos e à tensão que pairava no local, porém, coexistia uma peculiar tranquilidade em alguns bolsões na praça. Havia gente deitada nas barracas de camping usadas na vigília desde a semana passada, e centenas se ajoelhavam para rezar no horário da oração muçulmana. Além de manifestantes homens, havia muitas mulheres, algumas idosas, e crianças sitiadas no local. A situação era crítica.

Todas as saídas aparentavam estar bloqueadas para a multidão pelos tanques do Exército e pela ameaça das pedras. O perímetro de segurança e o cerco dos manifestantes pró-Mubarak ultrapassava 1 km do centro da praça.

Com agências