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Dilma diz a ministro que exposição dos presos é inaceitável

CNJ vai investigar vazamento de fotos em que detidos pela PF em presídio no Amapá aparecem sem camisa. Operação já foi criticada por uso de algemas e por condições das celas; advogados questionam divulgação de imagens

O vazamento de fotos que exibem presos da Operação Voucher da Polícia Federal sem camisa na cadeia, no Amapá, irritou a presidente Dilma Rousseff e será alvo de investigação no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Dilma convocou o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) para uma reunião sobre o episódio no Planalto, ontem à noite. Ela considerou o vazamento "inaceitável", segundo a Presidência.
Após as críticas pelo uso de algemas e as precárias condições do presídio em Macapá (AP) -os advogados afirmaram que precisaram levar até água para os presos e não há janelas nas celas-, o vazamento das fotos abriu uma nova polêmica na operação que desmontou suposto esquema de fraudes no Ministério do Turismo.

As imagens foram publicadas na capa de ontem do jornal "A Gazeta", de Macapá.
Nas fotos, aparecem sem camisa e segurando cartazes com suas próprias identificações integrantes da cúpula do Turismo e dirigentes da ONG Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável), suposta pivô de desvios num convênio com a pasta.

A direção do Iapen disse que vai abrir sindicância. Mas argumentou que a PF e a Justiça Federal também tiveram acesso às imagens.

Procurado pela Folha, o editor-chefe do jornal, Ângelo Fernandes, disse que, se for procurado, resguardará a fonte que lhe deu as fotos.

"É uma exposição ao ridículo. Uma foto tirada para identificação da polícia não pode ser divulgada assim. A intenção é clara e nitidamente de humilhação", declarou Gustavo Rocha, o advogado de dois suspeitos.

Defensores dos suspeitos também apontaram condições precárias no Iapen. "Os próprios policiais estimaram que o calor chega a 50 graus", disse Marcelo Crespo, um dos advogados de Mario Moysés, ex-secretário-executivo do ministério.

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, afirmou que o vazamento das fotos "é uma agressão à imagem, à intimidade das pessoas. Não é uma postura adequada em uma democracia".

"Se alguns dos suspeitos forem inocentes, como é que se vai apagar isso?", disse.
Segundo o advogado e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., a própria colheita das fotos era desnecessária, pois eles têm documentos: "A dignidade dos acusados não foi respeitada".

Fonte: Folha de S.Paulo