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Laboratório da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) pesquisa emissões de veículos a diesel, GNV e flex. De acordo com físico, 'não tem santo' entre os combustíveis.

Pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) pesquisam a cinco anos o que sai da descarga de automóveis, vans, ônibus e caminhões que transitam em Campos (RJ) e é misturado ao ar que a população respira. Com a coordenação do físico Marcelo Silva Sthel, as pesquisas indicam vilões já conhecidos e algumas surpresas. Qualquer que seja o combustível utilizado (álcool, diesel, gasolina ou GNV), sempre há emissão de gases que recomendam a instalação de estações de monitoramento de poluentes nas cidades que ainda não as possuem, como é o caso de Campos (RJ).

Uma das surpresas se refere aos carros movidos a gás natural veicular (GNV), considerado menos danoso do que outros combustíveis fósseis, como o diesel e a gasolina. Em marcha lenta, os veículos a gás estudados emitiram metano, que é o próprio GNV antes da queima e tem alto potencial de contribuição para o efeito estufa.

Outra surpresa no GNV é a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e etileno, embora em quantidades menores do que nos motores a diesel. O etileno é um dos precursores do chamado ozônio troposférico, apontado pelos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mantido pela ONU) como um dos causadores do efeito estufa e responsável por danos diretos à saúde humana. Como já era sabido, os veículos a gás emitem gás carbônico (CO2) quando aceleram, devido à queima do metano.

O álcool ou etanol tem a vantagem do ciclo renovável, onde o sequestro de carbono pela cana compensa as emissões da queima do álcool. Mas os estudos da UENF com carros flex detectaram um ponto negativo: a combustão do álcool também gera gás etileno, além de óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO) e gás carbônico (CO2). Na avaliação dos carros a gasolina não ocorreram surpresas: eles também são emissores de gases como óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), gás carbônico (CO2) e etileno.

Os dados, incluídos em sete dissertações de mestrado (cinco defendidas e duas com defesa marcada para fevereiro) e três de doutorado em andamento, têm sido publicados em periódicos internacionais como Sensors, International Journal of Environmental Studies, Spectrochimica Acta part A, Applied Fhysics B – Lasers and Optics; entre outros. Sthel integra o grupo do professor Helion Vargas, que acaba de ser agraciado com o 'Senior Prize IPPA', prêmio mundial da International Photoacoustic and Photothermal Association. Os professores Marcelo Gomes da Silva Delson Ubiratan da Silva Schramm e Maria Priscila Pessanha de Castro também compõem o grupo pesquisa.

Diesel e biodiesel – A coleta nas descargas de ônibus, caminhões e vans, todos movidos a diesel, não trouxe novidades. Foram encontrados óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), gás carbônico (CO2), dióxido de enxofre (SO2) e etileno.

Uma pesquisa em desenvolvimento no Laboratório de Ciências Físicas da UENF estuda a adição do biodiesel ao diesel em diferentes proporções. Os testes são feitos em bancada, usando um motor adaptado e de baixa potência. Nas ruas, os veículos circulam com uma mistura de 5% de biodiesel em diesel. No laboratório, os pesquisadores estão testando outras proporções: 10%, 15%, 20% e 25% de biodiesel em diesel.

"Achamos monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre, que em parte podem estar vindo da proporção de diesel convencional. O que surpreendeu um pouco é que o etileno não diminuiu muito mesmo com 25% de biodiesel na mistura", explica Marcelo Sthel.

Coquetel de poluentes – Enquanto alguns componentes expelidos junto com a fumaça dos veículos prejudicam diretamente a saúde, outros afetam o ambiente, contribuindo para o agravamento do aquecimento global. A dissertação de Carla Gomes Teodoro, da UENF, recapitula os principais efeitos negativos dos gases detectados nos estudos da UENF.

Segundo o quadro sintético incluído no trabalho, o dióxido de enxofre (SO2) causa chuva ácida e tem efeitos negativos sobre plantas, sistema respiratório e mucosa dos olhos humanos. Os óxidos de nitrogênio (NOx) também causam chuva ácida, são irritantes aos pulmões e agravam a asma, podendo causar doenças respiratórias agudas em crianças.

O ozônio troposférico (O3), que ocorre a partir de reações do etileno liberado nas descargas, leva a um cenário de poluição do ar conhecido como smog fotoquímico, causado pela interação de poluentes com a luz solar. Trata-se de substância tóxica a plantas e animais e prejudicial ao tecido dos pulmões.

O monóxido de carbono (CO) reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio, podendo afetar especialmente áreas que mais necessitam de oxigenação, como coração e sistema nervoso central, além de ser irritante da mucosa respiratória. Já o gás carbônico (CO2) e o metano (CH4) são agravantes do efeito estufa.

Fonte: Informativo da UENF