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Carlos Castilho: Globo perde o controle do BBB para o Facebook

Em toda essa polêmica em torno do suposto estupro no Big Brother Brasil 12, o fato mais relevante é o papel cada vez mais influente que a rede social Facebook está desempenhando na formação de ondas de opinião. 

Carlos Castilho*

O caso todo surgiu por conta do Facebook porque se dependesse da Globo o episódio poderia ter passado em brancas nuvens. Tudo começou com o aparecimento da suspeita de que uma participante tivesse sido estuprada por um colega de programa. A suspeita gerou uma polêmica entre internautas e a Globo resolveu jogar água na fervura, punindo o protagonista masculino no episódio.

A partir daí o caso tomou os rumos disparatados, com vários personagens buscando visibilidade pública, de ministros a policiais, passando por advogados, parentes, pastores e por aí vai. Até a Globo entrou de carona porque se aproveitou da máxima “falem mal, mas falem de mim”.

O episódio serviu, no entanto, para mostrar como os eventos públicos podem se tornar incontroláveis na medida em que o público passa a ter um protagonismo cada vez maior por meio das redes sociais na internet.

O Facebook ocupa nesse contexto um espaço especial porque não só é uma “aldeia virtual”, reunindo perto de um bilhão de participantes, como porque está deixando de ser uma instituição para se transformar num ambiente ou espaço público virtual, onde as regras e valores são reescritos constantemente.

Hoje, muita gente já começa a se perguntar se é possível viver sem o Facebook. Gostemos ou não da resposta, ela é não. O Facebook como instituição pode sumir, como já aconteceu com o Myspace, a primeira rede social de importância mundial, ou que pode vir a acontecer com o outrora onipresente Orkut. Mas o espaço público continuará existindo. Um espaço que está mudando os nossos comportamentos e também os nossos valores, como é o caso dos conceitos de privacidade, autoria e coletividade na internet. Mas esses são temas que podemos conversar mais adiante.

Há 12 anos, os produtores do reality show norte-americano Survivor [1] perderam parte do controle sobre o desenrolar do programa porque os telespectadores formaram comunidades na internet para trocar informações e antecipar o desfecho de cada episódio, antes de ir ao ar. As alternativas desenvolvidas pelo público resultaram mais interessantes que as da emissora, o que gerou uma batalha jurídica porque os produtores acusaram as comunidades de violar direitos autorais. Os produtores perderam.

O potencial desestabilizador do público em relação ao controle das emissoras sobre os seus programas já estava patente bem antes do surgimento do fenômeno Facebook. E tudo indica que o que grande reality show está se transferindo para a internet.

[1] No Brasil, a Globo produziu uma adaptação da série com o titulo de No Limite, transmitida entre 2000 e 2002, aos domingos.

*Carlos Castilho é jornalista.

Fonte: Observatório da Imprensa