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Produções de 2011 renovam fôlego do cinema latino-americano

Interessante constatação: enquanto na internet se instala aos poucos uma caça às bruxas que pretende eliminar os piratas do oceano audiovisual, nas salas de cinema de vários países latino-americanos os números de espectadores crescem.

Resistindo – elas, sim, como bravos piratas – ao ataque de blockbusters e ao domínio dos grandes estúdios, as cinematografias da região viveram um 2011 de estatísticas animadoras. Em geral, aumentaram os índices de salas por habitante, a frequência de espectadores é mais alta que a registrada nos últimos anos e, o melhor de tudo, despertaram-se para as suas próprias telas países antes um pouco adormecidos, como Colômbia, Chile e Peru e, em menor escala, Uruguai, Paraguai e Equador.

Um Conto Chinês, protagonizado por Ricardo Darín, foi visto por com 910 mil espectadores na Argentina

Fazendo um rápido balanço do cinema latino no ano que passou, algumas boas notícias saltam aos olhos. Além dos números em ascensão, é evidente a tendência generalizada a uma maior diversidade temática. E não só: apesar da fronteira entre ficção e documentário representar uma forte inclinação entre as histórias, há um flerte cada vez mais intenso com os gêneros tanto em países de maior tradição cinematográfica, como a Argentina, quanto em indústrias que ainda engatinham, como a peruana, onde produtores independentes têm explorado o gosto local por terror e ação.

Claro que nem todas são manchetes que fazem sonhar. Mesmo sendo mais, ainda há poucas salas por pessoa em quase toda a região – e concentradas em capitais e grandes cidades. O público, ainda cético em relação ao “seu cinema”, cambaleia na aceitação dos títulos nacionais, o que se reflete em um baixo número de espectadores por filme. Trocando em miúdos, tem aparecido mais produções regionais reconhecidas pela crítica e, com sorte, também pela bilheteria. Esses são os casos que elevam as estatísticas e, em parte, renovam o ânimo dos profissionais da área.

Se bem o desafio da distribuição persista, os ares se renovam – e há esperança de amadurecimento quando o assunto é construir cinema (e identidade, diversidade, memória…) na América Latina.

Um breve repasso pelo que aconteceu em alguns países da região em 2011 dá o tom da esperança que paira sobre o cinema latino em 2012. Confira:

Brasil

Porcentagem da bilheteria para o cinema nacional: 12,7%

Segundo o presidente da ANCINE, Manoel Rangel, os números de 2011 superam os recordes do ano anterior, alcançados graças ao sucesso de Tropa de elite 2. Dos 87 filmes nacionais lançados em 2011, sete alcançaram a marca de um milhão de espectadores – sendo que três deles tiveram mais de dois milhões de pagantes. A renda total de bilheteria (cerca de 1,4 bilhão de reais), com 140 milhões de ingressos vendidos, faz do Brasil o principal mercado latino de cinema em termos de rendimento.

A principal crítica do mercado, no entanto, é a escassez dos desejados “filmes médios” – os que não alcançam a poderosa cifra de um milhão de espectadores, mas ultrapassam a faixa dos 100 mil (em 2011, a grande maioria ficou abaixo dessa marca).

Argentina

Porcentagem da bilheteria para o cinema nacional: 7,2%

Por mais que a cinematografia vizinha seja amplamente reconhecida nos principais festivais internacionais, como os brasileiros gostam de lembrar, poucos filmes argentinos superam os 10 mil espectadores em casa. No ano passado, nenhum título nacional chegou a um milhão de ingressos (e apenas seis superaram a barreira dos 100 mil).

Das 100 estreias de 2011, bastante concentradas em Buenos Aires, o título mais visto foi, com folga, Um conto chinês, de SebastiánBorensztein, com 910 mil espectadores. Entre filmes menores, há uma aposta crescente pelo cinema de gênero, com títulos como Fase 7, de Nicolás Goldbart, e Sudorfrío, de Adrián García Bogliano.

Fala-se muito, também por lá, do bom desempenho de seus filmes – premiados em festivais importantes, mas que não conseguem atenção suficiente na Argentina. O que rebate a teoria tão difundida no país de que “os argentinos não querem ver cinema argentino” é a chegada da INCAA TV, com o objetivo de difundir a produção nacional. O canal exibiu durante o ano mais de 600 filmes, com audiência estimada de oito milhões de pessoas.

México

Porcentagem da bilheteria para o cinema nacional: 7%

É o país com mais salas na América Latina e uma das indústrias mais tradicionais da região. Apesar do aumento do público geral nos cinemas, as 60 estreias nacionais contabilizaram apenas 13 milhões de pessoas (7% da bilheteria total). Entre os 10 filmes mexicanos mais vistos do ano, vale ressaltar que três são animações: Don Gato y su pandilla, La leyenda de la llorona e El gran milagro.

Colômbia

Porcentagem da bilheteria para o cinema nacional:8,3%

Segundo Claudia Triana, diretora do Proimágenes Colombia, fundo de promoção do cinema colombiano, “a Colômbia está se consolidando como a quarta maior cinematografia da região”, graças ao seu rápido crescimento no setor, desde o lançamento da lei de cinema do país em 2004. Foram 18 títulos lançados em 2011, totalizando quase três milhões de espectadores para filmes nacionais. Desse número, quase 1,2 milhões assistiram a El paseo, de Harold Trompetero, o filme colombiano mais visto do ano.

Chile

Porcentagem da bilheteria para o cinema nacional: 5,5%

Depois de dois anos de números parcos, o cinema chileno renovou a energia em 2011, passando de pouco mais de 300 mil ingressos vendidos em 2010 para mais de 920 mil ano passado. Violeta se fue a los cielos, de Andrés Wood (Machuca), fez quase 400 mil espectadores e se consagrou como o quinto filme mais visto da historia do cinema feito no Chile.

Peru

Dono de uma indústria ainda incipiente, o Peru é um exemplo de cinematografia em pleno despertar. Com 35 filmes produzidos ano passado (um número alto considerando os anteriores), ainda que só nove títulos tenham sido lançados comercialmente em nível nacional, o cinema peruano assiste ao crescimento de uma produção regional. O filme peruano de maior público foi El guachimán, de Gastón Vizcarra, com 95 mil espectadores.

Fonte: Opera Mundi