Bem Vindos Médicos Latinos! Sim a Revalidação!

Artigo de Diego Santos, ex-diretor da UBES sobre a revalidação de diplomas de medicina para estudantes de outros países.

Nos últimos dias diversos comentários nas redes sociais em Manaus falavam sobre a Revalidação dos Diplomas de Medicina daqueles que estudaram em outros países. Gostaria de dar meu “pitaco”.

Quando diretor da UBES (2003-2005), tive contato pela primeira vez com alguém que vivera na pequena-grande ilha “Cuba”, eu tinha quase um caderno de tantas perguntas sobre como funcionava de fato o Governo Popular Cubano. Ao longo dos anos fui obtendo respostas com alguma leitura e pesquisa (nada que se compare ao belo estudo da jovem Dra. Ana Maria Prestes) para meu consumo.

O que Cuba tem haver com a revalidação? O que é a ELAM?

Cuba é sem dúvida um exemplo para o mundo de solidariedade: Depois da América Central e Caribe ter sido atingida pelos furacões Georges e Mitch, no ano de 1998, no embalo do esforço cubano de auxiliar seus vizinhos, criou em 1999 a Escola Latino-americana de Medicina (que completou 13 anos semana passada), destinada a receber jovens de diversas culturas para aprenderem o exercício da medicina, um projeto que de início alcançaria 5 mil médicos formados em 10 anos e hoje ultrapassa em muito tal número.

As bolsas são enviadas as embaixadas cubanas nos respectivos países, elas se encarregam de distribuí-las, portanto cada país tem um processo de seleção com características próprias ainda que mais ou menos similares. No Brasil, a embaixada divide as bolsas entre partidos políticos de esquerda, de centro e de direita, aos movimentos sociais, a orfanatos, aos moradores de favelas e bairros pobres, aos indígenas, aos jovens trabalhadores, camponeses, operários, intelectuais entre outros.

Em 2007, a então deputada Vanessa Grazziotin era Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Cuba, e usou de seu prestígio para auxiliar jovens amazonenses a entrarem na ELAM. A parlamentar abriu um canal de dialógo com a embaixada Cubana para que enviassem entrevistadores ao Amazonas a fim de selecionar os beneficiários das bolsas de estudo da ELAM.

O ataque e o preconceito contra a Revalidação
Um outro parlamentar, Dep. Estadual Marcelo Ramos, direto a essa medida tomada pela Senadora Vanessa, e fez um ataque preconceituoso à Revalidação dizendo ”Não pode revalidar diplomas de países que não têm vestibular” e “Em Cuba a seleção é ideológica” – o vestibular é um funil, sempre foi. É inadmissível que esse mecanismo de exclusão seja valorizado em detrimento da seleção sócio-econômica feita por Cuba. Cuba não conhece tal mecanismo porque 72% da população tem ensino superior. Não pode-se instigar um enfrentamento das classes sociais por conta da revalidação. Cuba tem sim uma seleção ideológica: primeiro o povo. Assim como o vestibular nos marcos brasileiros tem a sua seleção ideológica: primeiro que tem dinheiro, que pode estudar 24h por dia sem precisar trabalhar para o seu sustento.

Em 2007, na despedida do Rafael Nascimento (que está cursando o 4º ano de medicina na ELAM), no clube da OAB/AM (cedido à pedido do Marcelo Ramos), o Deputado Estadual – sem nenhum mandato á época -, tecia mil maravilhas à iniciativa do PCdoB de auxiliar na vida acadêmica de seus militantes e de pessoas que não tinham condições de realizar o sonho de ser médico (não nos marcos do capitalismo brasileiro) e que enxergaram em Cuba uma oportunidade de ajudar na melhoria da vida do povo latino-americano. Hoje o parlamentar, no cumprimento do seu papel de capataz, ataca cegamente, pisca os olhos e muda de opinião. Lamentável!

Esses jovens brasileiros que estão em Cuba, junto com milhares de jovens de todo mundo (até dos EUA), outrora sequer sabiam o que significava a palavra “socialismo” ou o termo “solidariedade entre os povos” e hoje enfrentam a rígida jornada para aprender Medicina, se dedicam a estudar e vão além: com a doce agenda de viver a experiência socialista cubana, que, mesmo sabendo que o Socialismo Brasileiro poderá ser distinto em alguns pontos do Cubano, estabelecem novos valores solidários a um mundo sem fronteiras.

Esses jovens querem voltar pra casa, querem ser bem recebidos, optaram por estudar noutro país para cumprir a missão da ELAM: formar médicos dedicados e sensíveis as questões sociais.

De minha parte, são todos bem-vindos de volta pra casa!

PS. Sobre os diplomas da Bolívia, Peru e Argentina, comprometo-me a ler mais sobre eles e opinar mais à frente.