Bordoni: 'Mentirama' contra o Mutirama paralisa a obra

Eles só pensam neles, só querem saber deles e do que a eles interessa. Se só interessa a eles, não há interesse público, mas usam a máquina mantida pela população para amealhar vantagens e fortunas.

Por Luiz Carlos Bordoni*, em seu Blog

O Relatório da CPMI traz algumas informações interessantes sobre as ações do líder do gangster squad. Conluiado com vereadores que servem à sua causa, o Sr. Carlos Cachoeira, em defesa da Delta, tudo faz para impedir que a Warre, vencedora da licitação, consiga levar avante as obras do Parque Mutirama, frustrando a administração do município e, o que é mais grave, frustrando os munícipes.

“Goiás ainda vai se orgulhar de mim” – disse Carlos Cachoeira, recentemente, quando lhe foi dado o direito de recorrer de pena em liberdade.

Orgulho talvez não tenha, mas estará grato se o ilustre senhor contar tudo sobre a sua relação com o atual governo e com as pessoas ali instaladas. Ele tem este débito com os goianos. Como está em débito com Goiânia. Por culpa dele, da ambição dele, as obras do Parque Mutirama foram paralisadas e a liberação de recursos pelo Ministério do Turismo suspensa.

Tudo por conta desse seu pódio à Warre, aos Daher. Já os perseguia por causa da parceria com a Gabardo, em Anápolis. Decidiu fazê-lo, novamente, por causa do Mutirama. A Delta queria a obra. Já tinha feito dois viadutos e aquele da Araguaia estava nos seus planos, também. Perdeu para a Warre. A ordem é acabar com os “turcos”.

Até em relação à obra do Parque Mutirama, em Goiânia, Carlos Cachoeira usa a Procuradoria Geral do Estado para zelar de seus interesses. “Melar” a obra era a meta e foi o que ele teria articulado com o procurador Marcelo Siqueira: a elaboração de parecer que atenderia aos objetivos do grupo criminoso: paralisar a obra, o repasse de recursos, colocando o Ministério Público na parada.

Só foi possível descobrir isso através dos grampos da Polícia Federal, durante longa conversa de Cachoeira com dois de seus títeres na Câmara Municipal.

Dia 26/04/2011. São 19h05min. O vereador Geovani Antônio (PSDB) liga para Carlinhos. Está eufórico.

Diálogo

GEOVANI: Carlinhos, o Ministério Público acabou de entrar com uma ação pedindo a paralisação da obra do Mutirama. Aquele procurador, Marcelo, entrou e pediu retenção do recurso do Ministério do Turismo, entendeu, até que se promova uma nova licitação.

CARLINHOS: É mesmo? Então fudeu, hein!

GEOVANI: Entrou agora, mas num vai sair na imprensa amanhã ainda não, viu. Porque não divulgou pra imprensa nada, ainda não. A imprensa num tá sabendo nada. Então, fez desse jeito. Entrou pedindo, é… Prendeu os recursos, esperar um novo processo licitatório, você entendeu? Retenção dos recursos até que faça uma nova licitação.

CARLINHOS: É, fica ruim. Aí acabou nossa… nossa obra.

GEOVANI: (risos) O Santana tá rindo aqui. Ele quer falar com o senhor. Espera aí.

CARLINHOS: Que desgraçado!

SANTANA: Uai, o quê que foi, amigo?

CARLINHOS: Sabia que tinha dedo seu. Você vai ver.

SANTANA: Amigo, nós temos que arrumar um outro meio, parece que nós vamos ter que… Nós temos que conversar de novo, viu?

Santana: fiel escudeiro

CARLINHOS: É… Aí, agora… (ininteligível) eles vão querer fazer um acordo.

SANTANA: Exatamente, eu já falei com o Elias. Ele vai lá comigo. Eu vou convencê-lo a fazer aquilo que eu te falei. Você viu, é… Você vai falar o seguinte: que o Promotor ficou magoado do Ministro, do Ministro ter vindo aqui, feito esse show, num sei o quê… O Promotor ficou magoado. Você tem que arrumar essa desculpa.

CARLINHOS: A máscara caiu, neguinho!

SANTANA: (risos) Então, vai ser noutro telefonema.

CARLINHOS: Tá bom.

SANTANA: Essa só você que tá sabendo, viu. Cá pra ele, viu. Aí eu já falei pro Elias pra ele ir lá comigo amanhã. Então, nós temos que sentar cedo, eu e você, pra gente decidir nova estratégia, como é que vai ser a nova estratégia nossa, viu? Eu acho que aquela é boa. Eu vou convencer o Elias daquela.

CARLINHOS: É, moço. Tem que fazer aquela, né? Vamos ver se vai dar certo.

SANTANA: A do TAC. Vamos tentar essa. Nós temos que ter segunda opção também, né? Por que se a gente perceber que num vai dar essa, nos temos que e ir pro pau e explodir depois na próxima licitação, chefe.

CARLINHOS: É foda, viu.

SANTANA: Os caras erraram, chefe. Eles humilharam o Promotor. Fazer uma festa dessa! Burrice, deixou o cara sem… Afrontou o cara, amigo.

CARLINHOS: Com que cara que eu fico agora, Santana? Eu fiquei de arrumar esse trem tudo, confiando em você e no Elias.

SANTANA: Uai, nós tamos fechado, uai! Agora, quem confiou com você com Marcelo… Agora vai ter que mudar tudo em relação ao Marcelo.

CARLINHOS: (Risos) Faltou combinar com o Marcelo.

SANTANA: Você combinou comigo e com o Elias. Nós não erramos em nada. Do jeito que você combinou. Você combinou com o Marcelo?

CARLINHOS: É, realmente a falha foi essa aí.

SANTANA: A preocupação que eu tenho é a seguinte, é a minha teoria: vamos tentar fazer o TAC. Se num der certo, se tentar e não der certo o TAC, nós temos que ir pro pau. Aí nós vamos ter que derrubar o trem, entendeu?

CARLINHOS: É verdade, ai enrola. Esperar pra ver.

Elias Vaz, do PSOL

SANTANA: Amanhã, você… Eu vou lá depor, você num entendeu, eu vou fazer o jogo. Nós temos duas situações: eu tenho que tá preparado pra depor, pra pôr mais merda, ou tirar tudo da cabeça.

CARLINHOS: Esse trem é verdade, mesmo. O (ininteligível) num tá sabendo de nada. Nós temos que antecipar aqui.

SANTANA: Ô, Chefe. Eu to acabando de falar pra você. O Promotor ligou… Você vai ficar sabendo… Pediu segredo. O Promotor ligou pra Elias, rapaz.

CARLINHOS: Cara filha da puta. Taí pra fuder, dar um jeito aí!.

SANTANA: Essa informação o Elias me pediu segredo, viu? O cara ligou pra ele agora. Tô passando pra você por que… É pra num vazar pra imprensa, num vazar em lugar nenhum, Chefe.

CARLINHOS: É mais aí eu… Eu tenho que adiantar… Então, firme mesmo né? Eu vou falar com eles aqui, então. O pior que o Marcelo acabou de me ligar.

SANTANA: Se você vai falar isso, é o seguinte: tem que preservar o Elias.

CARLINHOS: Ah, então tá bom. Vou adiantar aqui, então.

SANTANA: Num queima o Elias não, por que, se queimar, nós tamo fudido, que aí o Marcelo vai desconfiar do Elias. Aí nós tamo fudido.

CARLINHOS: (…) Não vou falar em Elias, não. Eu vou falar que o Marcelo que me ligou…

SANTANA: Você num ouviu o que eu te falei, porra! Aí se o promotor descobre que o trem explodiu? Ele só falou com o Elias. E aí?

CARLINHOS: Ah, tá legal. Vamos ver aqui.

SANTANA: E amanhã cedo ele vai soltar pra imprensa. Depois disso aí, eu vou aí à tarde. Nós temos que tá totalmente falando redondinho, porque ele tá com pulga na orelha. Ou põe mais pulga ou tira as pulgas dele. A gente faz o TAC à tarde. A gente já programou entendeu?

CARLINHOS: Não, tenta fazer esse acordo amanhã. Chama o Elias.

SANTANA: Mas é o seguinte: essa história que eu te contei agora, ninguém vai saber, senão nós queimamos o Elias e aí o ELIAS num vai valer nada pra nós, também. O cara tá confiando no Elias. Ele ligou pro Elias, porra!

CARLINHOS: Não, pode deixar.

SANTANA: Amanhã, nós temos que conversar. Nóss temos que ter o plano B…

Despedem-se.

Como lesar o interesse público sem fazer força? E usou um procurador do Estado, pago pelo contribuinte, para “ferrar” a Warre, tentando promover nova licitação, e para mover a ação que bloqueou os recursos do Ministério do Turismo. E usou o Ministério Público para embargar a obra, fazendo, no mínimo, o seu custo dobrar ou triplicar.

Há momento em que nos confundimos, já nem sabemos se temos bandidos no governo ou se temos um governo de bandidos.

Luiz Carlos Bordoni é jornalista e comentarista político de Goiás.