Agressões contra internos da Fundação Casa revela abandono

Quatro funcionários, entre eles o diretor de uma das oito unidades do complexo Vila Maria (zona norte) da Fundação Casa, do governo do estado de São Paulo, foram afastados após denúncia feita pelo programa "Fantástico", da Rede Globo. Foram exibidas imagens em que adolescentes da instituição são espancados por servidores nas dependências da instituição. As cenas nos fazem lembrar da violência que era tão comum na época da Febem que, pelo visto, só mudou de nome. Crianças e adolescentes ao invés de serem recuperados estão abandonados em 'depósitos' do estado paulista.

Socos, tapas, chutes e cotoveladas são dadas contra os jovens seminus. A sessão de espancamento, na antiga Febem, ocorreu em maio, após tentativa de fuga, no centro de atendimento João do Pulo, parte do complexo.

No vídeo, enquanto dois coordenadores de segurança agridem os garotos, um chefe deles assiste a tudo. O diretor da unidade também não impediu a ação. Os adolescentes foram transferidos. A presidenta da fundação, Berenice Gianella, declarou publicamente que demitiria todos por justa causa, mas que isso depende de sindicância.

“É a primeira vez em 18 anos de atuação, visitando unidades da Fundação Casa, é a primeira vez que eu assisto essas cenas. E isso choca pela covardia com que os torturadores agiram nesses casos”, diz na matéria do programa Ariel de Castro Alves, do grupo Tortura Nunca Mais e Movimento Nacional de Direitos Humanos.

Somente nesta semana, é a segunda vez que a Fundação Casa aparece com destaque no noticiário. A primeira foi na segunda-feira (12), quando dezenas de internos pularam o muro e chegaram a usar uma árvore para fugir da unidade Itaquera, na Zona Leste de São Paulo. Quarenta e nove jovens conseguiram escapar. Vinte e dois foram recapturados.

No mesmo dia, também houve rebelião na Vila Leopoldina, zona oeste. Somando esses distúrbios em duas unidades, 41 funcionários foram mantidos reféns e oito ficaram feridos.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Casa, Júlio da Silva Alves, contou a situação dos trabalhadores: “Muitas das vezes, o funcionário é vitima de um trauma dentro da unidade. Nós temos trabalhador com transtorno bipolar, trabalhadores com esquizofrenia, trabalhadores com síndrome do pânico”.

“Que tipo de tratamento, que tipo de medida que a gente está oferecendo para os nossos adolescentes?”, questiona Matheus Jacob Fialdini, promotor de Justiça da Infância e da Juventude.

Vale lembrar que a unidade da Vila Maria abriga infratores primários, de menor periculosidade. Ou seja, apresentam um comportamento melhor, se comparada a outras unidades que concentram reincidentes. "Uma unidade como essa, em tese, é considerada uma unidade relativamente mais fácil de administrar”, conclui Fialdini.

Com Fantástico