Parto normal será promovido em campanhas e ações de parceria 

Um Acordo de Cooperação Técnica para reduzir o número de cesáreas desnecessárias no Brasil foi firmado, na última sexta-feira (24), entre Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Hospital Israelita Albert Einstein e Institute for Healthcare Improvement (IHI), em São Paulo. A parceria serve para iniciar um projeto piloto que tem como objetivo promover o parto normal e qualificar os serviços da saúde suplementar. 

Parto normal será promovido em campanhas e ações de parceria - Elisa Elsie/Tribuna do Norte

Na mesma sexta-feira, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abriu consulta pública, que prossegue até o dia 23 de novembro, sobre as medidas necessárias para reduzir as cesáreas desnecessárias.

Enquanto o índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para este tipo de parto é de 15%, no Brasil esse índice é de 52%, chegando a 84% na rede privada, segundo levantamento da Fiocruz.

Além do projeto piloto e da consulta pública da ANS, cujas contribuições já começaram a ser recebidas, serão formuladas campanhas de informação e conscientização para profissionais da área de saúde e para beneficiários de planos de saúde referentes ao parto normal.

A implementação do projeto piloto pelo Hospital Albert Einstein será em fevereiro de 2015. A entrega dos resultados da ação está prevista para o fim de 2017. A partir daí, o modelo deverá ficar disponível para ser adotado por qualquer estabelecimento de saúde que se interessar pela iniciativa.

Mudança de hábitos

Para a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), coordenadora da Bancada Feminina da Câmara, é essencial a mudança de hábitos no país para se inverter essa situação, tornando o parto cesariano uma exceção, e não a regra, como ocorre atualmente. Feita sem indicação médica, a cesariana aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios no recém-nascido e triplica os casos de morte da mãe.

"Nós temos, ao longo da história, alguns hábitos culturais. O primeiro é um estímulo à cesariana, porque o preço era maior. O segundo, um estímulo à mãe que fizesse cesariana, porque a dor era menor. Há uma falta de educação para o parto natural. É preciso que se criem condições de humanização do parto para que as mulheres tenham o apoio integral desde o pré-natal, mas também a possibilidade de escolherem entre ter um parto natural ou ter um parto induzido a uma cesárea, quando ela for necessária”, avalia a deputada.

“Estou convencido de que, se não compartilharmos as responsabilidades nos setores público e privado, não vamos avançar na mudança desse cenário que coloca em risco a saúde de mulheres e crianças no Brasil. Consideramos que a parceria vai poder mobilizar muitas instituições que estão querendo contribuir para essa mudança de cultura, que é o nosso grande desafio”, afirma o ministro da Saúde, Arthur Chioro, fazendo coro às palavras da parlamentar.

O ministro lembrou que na década de 1970, o Brasil viveu situação parecida em relação ao aleitamento materno. À época, o leite artificial era tido como uma opção melhor para os recém- nascidos. Hoje, pesquisas reconhecem a importância do leite materno para o desenvolvimento das crianças e a recomendação do Ministério é a amamentação exclusiva até os seis meses de idade.

"Com muito esforço, conseguimos fazer a inversão dessa realidade. No caso dos partos, entendemos que (essa transição) passa também por mudanças significativas no modelo de atenção à saúde, de remuneração dos serviços, pela formação médica. Além disso, há um estigma, um mito de que o parto normal é um parto com dor e sofrimento. Nós temos que voltar a estabelecer o parto normal como cultura e como prática no nosso país e fazer com que o parto cirúrgico seja adotado apenas quando indicado”, afirma o ministro.

Da Redação em Brasília
Com agências