Nirlando Beirão: A Globeleza desnuda o mito da interatividade na tevê

Interatividade é um dos nomes que ganham a feroz competição em que tevê e internet se engalfinham, de olho no futuro próximo da comunicação de massa.

Por Nirlando Beirão*, na Carta Capital

nayara justino - Reprodução

A tevê, por tradição, impõe um padrão de recepção passiva, o espectador escarrapachado na poltrona a engolir a indigente, ou indigesta, dieta que lhe é apresentada. A web, ao contrário, é hiperativa, excita o usuário a uma relação de afirmação e autonomia, liberta o internauta das amarras da grade fixa de qualquer programação.

Para estancar a irremediável migração da informação e do entretenimento para a internet, a televisão esforça-se para abrir caminhos para que o espectador saia da pasmaceira e consiga interagir com aquilo que aprendeu a assistir com distanciamento.

Reality shows como o BBB e A Fazenda oferecem a ilusão de poder decisório. Emissões como The Voice Brasil aproximam emocionalmente candidatos, artistas e seu vasto auditório eletrônico. Mas no geral o convite à participação é tão risível quanto as perguntas feitas durante partidas de futebol aos comentaristas sabichões.

A Globo chegou a pensar em deixar nas mãos, aliás, nos olhos e na fantasia dos que a frequentam a escolha da nova Globeleza, a sacolejante sílfide que preside as noitadas de carnaval tendo como figurino uma pintura de pele. Desistiu. Talvez não confie nos critérios estéticos da audiência. Talvez seja um exagero de democracia com o qual o padrão Globo não está acostumado.

Nirlando Beirão* é Jornalista e escritor, é colunista do Jornal da Record News e da Carta Capital. Foi colunista do Estado de S. Paulo e do Correio Braziliense, editor da Veja e Istoé e fundador de Caras, Wish Report e Status. É diretor-adjunto da revista Brasileiros.