Globo controla Cunha que, por enquanto, obedece mansamente 

A mídia hegemônica tem um viés claramente mafioso em vários aspectos de sua atuação. Um destes aspectos, de conhecimento público, é a coleta de informações comprometedoras que são usadas quando a necessidade surge. 

Cunha e O Globo

Muitas vezes, quando a coleta resulta insatisfatória, as tais “informações comprometedoras” são simplesmente “construídas”, através de manipulação, insinuações, meias-verdades ou a simples mentira. O que se exige em troca do silêncio é um comportamento que atenda aos interesses da organização que detêm não só as informações (verdadeiras ou não) como os meios de divulga-las amplamente. O Sistema Globo, ao longo de sua história, tem sofisticado cada vez mais este método, e a edição desta quarta-feira (4) de O Globo é exemplar.

O “arquivo” está cheio

Antes de falarmos propriamente da edição em tela, falemos um pouco sobre o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Ele é um tipo que representa a forma mais atrasada de fazer política. Reacionário, contra todo tipo de avanço democrático, não teria qualquer dificuldade em seguir a cartilha do Sistema Globo, se não fosse o fato de que seu partido faz parte da base do Governo, a legenda ocupa importantes ministérios e o cargo de vice-presidente do Brasil, o que não deixa de ter impacto forte em um personagem como Cunha, afeito ao poder e as suas benesses. No entanto, em se tratando de quem se trata, O Globo exige e vai cobrar do novo presidente um comportamento totalmente “enquadrado” pois o arquivo das organizações Globo tem várias gavetas com seu nome. E Cunha sabe disso.

Cunha segue as ordens

Logo em seus primeiros passos na presidência da Câmara Cunha já mostra a que veio. Indo contra o anseio geral por um efetivo combate à corrupção, comanda a admissibilidade de uma reforma política antidemocrática que incluí na constituição nacional, ou seja, perpetua, a doação privada de empresas a candidatos, batendo de frente com as propostas da OAB, da CNBB e de outras dezenas de organizações e também contrariando a decisão do STF que considera tais doações inconstitucionais, o que só não foi oficializado porque o ínclito ministro Gilmar Mendes está há dez meses segurando propositalmente o processo, através do recurso de “pedido de vistas”. Caso a reforma de Eduardo Cunha seja implementada, a “compra” de mandatos através de doações de empresas privadas não só continuará como estará garantida pela constituição. O Sistema Globo ficou muito satisfeito e registrou em seu jornal nesta quarta-feira (4/1, página 8); “Cunha derrota PT e avança com proposta de reforma política”. Mas o jornal da famiglia Marinho também manda seus recados ao deputado.

A ameaça sutil de O Globo

Quem vive de chantagem tem uma regra de ouro: por mais que o chantageado entregue pontualmente o pagamento é sempre bom manter a pressão. Logo ao lado da matéria “comemorativa” citada na nota acima, o principal garoto de recados do jornal, Ricardo Noblat, assina matéria especial de análise sobre (ainda) a eleição de Cunha e em determinado trecho deixa escapar a preocupação: “Quem poderá garantir que a eleição de Cunha não passou de caso isolado e que os ruminantes da base do governo no Congresso voltarão a ruminar mansamente?”. Deixemos de lado a ofensa a todos os deputados que apoiam o Governo (todos ruminantes enquanto os éticos, probos e independentes estão na oposição) e prestemos atenção na matéria da página 9 que, aberto o jornal, está logo ao lado do artigo do Noblat. O título é: “Na mesa diretora da Câmara, cinco com problemas na justiça”. O nome de Cunha não é citado entre os cinco mas sem dúvida ele entendeu o recado. O Globo e a mídia hegemônica usaram o “mar de lama” para atacar Getúlio, Jango e agora repetem a tática para atacar o governo Dilma, aprisionar o legislativo e, se possível, esfrangalhar (para depois vender) a Petrobras. Lutemos!

Damatta: O antropólogo das águas rasas

“Não é por que as águas são turvas que o lago é profundo”. Esta frase de Rubem Braga serve um pouco para definir a sensação de quem lê as colunas do antropólogo Roberto Damatta. Tirando o verniz de uma linguagem com elementos acadêmicos, o que resta? Chavões que você encontra em qualquer salão de beleza de “gente diferenciada”. A análise dos fatos políticos e sociais não existe. Sobra ódio ideológico e indignação de boutique.

Damatta: O antropólogo das águas rasas II

A coluna publicada nesta quarta-feira (4) é um exemplo do que diz a nota acima. Em artigo intitulado “Quando comi um veado”, Damatta afirma que o “patrimonialismo” tornou-se “imbatível contratando parentes, amigos e companheiros de partido e de ideal revolucionário”. Quer dizer, segundo o antropólogo, nem na monarquia, nem no início do século XX até a década de 50 quando o processo de urbanização no Brasil começa a se intensificar, jamais existiu tanto “patrimonialismo” quanto existe hoje em um governo do PT. Científico não? Mas tem mais. O articulista, narrando uma de suas aventuras emocionantes qual Indiana Jones, conta que em Imperatriz (Maranhão), na década de 70, era tão difícil encontrar um dentista quanto “um diretor honesto na Petrobras” (diretores honestos da Petrobras, a imensa maioria, deveriam se apresentar ao antropólogo). Continuando a brilhante analogia, Damatta diz que colocou um implante que é “como a desonestidade do governo petista – à prova de tudo”.

Onde está o fascismo?

Muita gente alerta sobre o ódio e a intolerância crescentes que emanam das seções de cartas e comentários que vicejam na mídia hegemônica. O reacionarismo, por ter argumentos que a vida real acaba desmascarando, estimula a resposta puramente emocional, inimiga do raciocínio crítico. Lendo a nota acima, vemos que não é difícil encontrar onde começa o fascismo. Não precisa nem ser antropólogo para descobrir.

A Petrobras destruída?

O massacre contra a Petrobras tenta passar a mensagem absolutamente falsa de que ela está destruída, porque o objetivo é este, destruí-la para depois vender os destroços. A colunista de O Globo, Helena Celestino, assina coluna (edição de 4/2) que traz como título: “Tragédia a brasileira”. Segundo a colunista, o Financial Times (conhecido porta-voz do sistema financeiro internacional) “classificou de uma sórdida e fascinante novela a dramática expulsão da Petrobras do mundo das empresas globais”. Como então a Petrobras foi “expulsa do mundo das empresas globais”? Tal absurdo só é possível de ser reproduzido com esta tranquilidade em uma mídia totalmente monolítica, pois do contrário quem veiculasse isto cairia no ridículo.

A Petrobras destruída? II

Helena escreve esta asneira justamente um dia depois da Offshore Technology Conference (OTC), conceder à Petrobrás o maior prêmio mundial da indústria de petróleo e gás (veja matéria do Vermelho), o OTC Distinguished AchievementAward for Companies, Organizations, and Institutions, concedido, segundo o presidente da OTC, Edward G. Stokes, como “um reconhecimento das conquistas notáveis, significativas e únicas alcançadas pela Petrobras, e das grandes contribuições para a nossa indústria (óleo e gás offshore)”. A OTC não deve ter o costume de ler a coluna de Helena Celestino e provavelmente conhece qual o jogo do Financial Times.

Míriam Leitão e sua mitomania

Com o ar professoral de sempre, a colunista amestrada Míriam Leitão diz, em O Globo desta quarta-feira (4), que a ex-presidenta Graça Foster foi demitida “pelo motivo errado”: a divulgação “dos R$ 88 bilhões de rombo no valor dos ativos (da Petrobras)”. Como não sabemos (por enquanto podemos apenas supor) quais os exatos motivos da demissão da Graça Foster (Míriam sabe com certeza) constatamos apenas que a colunista global mentiu duas vezes (pouco para os seus padrões). Primeiro ao se referir aos R$ 88 bilhões como “rombo”, sendo que esta estimativa já caiu no descrédito de técnicos e especialistas e só é citada como arma de propaganda da mídia. A segunda mentira foi que mesmo dando algum crédito a este número “mágico” a estimativa fajuta também apontou subavaliação a favor da Petrobras de 27 bilhões, o que transforma os mágicos 88 bilhões em mágicos 61 bilhões. Mas, deve pensar a Míriam, “se é para mentir vamos mentir direito”.

Merval e Míriam: casal global que indicar nova diretoria da Petrobras

O casal de colunistas amestrados do Sistema Globo está empenhado na indicação de nomes para a nova diretoria da Petrobras. Em sua coluna em O Globo desta quarta-feira (4) Miríam propõe que a nova diretoria seja composta por “profissionais recrutados no mercado, com expertise de gestão de crise”. Merval, hoje na CBN, repete mais ou menos a mesma opinião, compartilhada também pelo seu “colega” Sardenberg (os três com a mesma opinião, coincidência não?). Como se sabe “profissionais do mercado” são pessoas sem opiniões políticas, que só querem o bem das empresas e do país. Pessoas digamos, como Maílson da Nóbrega, que reza pela cartilha dos colunistas neoliberais e recentemente voltou a defender a privatização da Petrobras (veja matéria do Vermelho). Mas a intenção do casal é, com certeza, só ajudar.

É lixo mesmo

O jornal da mídia hegemônica argentina Clarin primeiro afirmou que um documento assinado pelo falecido promotor Alberto Nisman teve trechos cobertos à tinta, trechos estes que pediriam a prisão da presidenta Cristina Kirchner. Um juiz e uma promotora desmascararam a farsa do jornal (leia no Notas Vermelhas de 3/1). Agora a história mudou. O jornal informa, para tentar confundir a questão, que foram encontrados no lixo do promotor um “rascunho” amassado onde consta o pedido de prisão. Ora, o próprio Clarin admite que a denúncia oficial apresentada por Nisman poucos dias antes de morrer não continha o pedido de prisão. Afinal, o rascunho amassado não passava de…um rascunho, que o próprio promotor, opositor declarado do governo argentino, julgou não ter base para sustentar. O que significa isso? Que o chefe de gabinete de Cristina Kirchner é quem tem razão: O Clarin é um lixo que se abastece de lixo.

Colabore com o Notas Vermelhas: envie sua sugestão de nota ou tema para o email wevergton@vermelho.org.br