Parlamentares denunciam manobra para atacar PT na CPI da Petrobras

Deputados do PT que integram a CPI da Petrobras denunciaram, na quinta-feira (11), a tentativa de alguns parlamentares de desviar a comissão de uma linha investigatória isonômica, para centralizar as críticas ao PT.

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Em uma sessão conturbada, o colegiado aprovou 140 requerimentos, que incluem novas convocações, acareações e quebras de sigilos. Porém, a não inclusão na pauta de alguns requerimentos específicos incomodou a banda petista, em clara tentativa, segundo eles, de poupar PMDB, PSDB e DEM.

Foram excluídas, por exemplo, a convocação do lobista Júlio Gerin Camargo, um dos delatores da Lava Jato, e do policial federal Jayme de Oliveira Filho, conhecido como Careca. Júlio confirmou em depoimento à Justiça Federal que pagou US$ 30 milhões a Fernando Soares, o Fernando Baiano, por dois contratos da Petrobras. Baiano é apontado pelo doleiro Alberto Youssef como operador do PMDB no esquema de corrupção. No caso de Jayme, ele era um dos entregadores do dinheiro do esquema de corrupção.

O deputado Afonso Florence (PT-BA), líder do PT na CPI, acrescentou ainda a necessidade de convocar o empresário Leonardo Meirelles, um dos donos do Labogen, laboratório que seria usado por Alberto Youssef para lavar dinheiro ilegal. Em depoimento à Justiça Federal, Meirelles citou que membros do PSDB seriam destinatários dos desvios de dinheiro da Petrobras.

Em um dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ele afirmou que Sergio Guerra, ex-presidente do PSDB, recebeu R$ 10 milhões de propina da empreiteira Queiroz Galvão para impedir a instalação de uma CPI para investigar irregularidades em contratos da estatal.

“Sempre aparece uma blindagem quando se trata de outros partidos. Estamos protestando contra isso. Foi uma reunião atropelada, com o objetivo de evitar a investigação em relação à delação premiada de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra recebeu dinheiro de propina. E isso foi obviamente conduzido pelo presidente da CPI, deputado Hugo Mota”, disse Florence.

O deputado reforçou que a orientação do PT é investigar, sem impedimentos. “Se forem constituídas provas de inocência ou de indiciamento, seja para petista, peemedebistas, peessedebistas, vamos encaminhar. O que não pode ocorrer é o impedimento da investigação, que é o que está acontecendo na CPI”, completou.

O deputado Jorge Solla (PT-BA) também criticou a condução com viés político na comissão. Outra demonstração desse fato foi a decisão do presidente Hugo Mota em considerar prejudicados requerimentos da autoria de Solla, que pediam cópias dos arquivos da Operação Castelo de Areia e convocavam os executivos Pietro Bianchi e Saulo Thadeu Vasconcelos, da Camargo Correia.

Segundo o petista, matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, na quinta-feira (11), revelou que Bianchi recebeu R$ 7,38 milhões da empreiteira entre janeiro de 2008 e dezembro de 2013, mesmo depois de ter sido preso na Operação Castelo de Areia. De acordo com as investigações da Lava Jato, o executivo teria usado parte desse dinheiro para o pagamento de propinas.

“A imprensa avança mais nas investigações que a CPI. Apresentei esses requerimentos em 23 de abril, mas fatos relevantes como esses não interessam à CPI, porque envolvem partidos como o PMDB, PSDB e DEM”, contrapôs Jorge Solla.

Além desses requerimentos, o presidente Hugo Mota considerou prejudicados mais de 50 requerimentos de preferência, de autoria do relator da CPI da Petrobras, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). Ele chamou a atenção que, pela primeira vez, numa votação de requerimentos, o relator foi excluído do processo de indicar o que considerava essencial.

“A cultura e a prática da CPI é que o relator tem preferência, já que é ele quem conduz o processo da investigação. Deixo registrado que, ao prejudicar todas as preferências, ele também derrubou tudo o que pontuei como importante dentro dos itens que ele pautou”, protestou Luiz Sérgio.

Para o deputado Leo de Brito (PT-AC), foi uma manobra diversionista da CPI, que poderá prejudicar os trabalhos da comissão. “As pessoas não querem uma investigação seletiva, querem uma investigação de tudo, de todos os partidos. Hoje, por conta do início do Congresso Nacional do PT, houve uma manobra envolvendo os tucanos e o presidente da CPI, para aprovar requerimentos e criar factoides políticos, passando um rolo compressor por cima da Bancada do Partido dos Trabalhadores”, avaliou.