Luciana: Retomar iniciativa política com bandeiras progressistas

O curso nacional de formação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que teve início na última segunda-feira (13) com término para o dia 24 de julho, contou com uma aula inaugural da presidenta nacional do PCdoB, deputada federal (PE), Luciana Santos. A atividade acontece em Jacareí, cidade a 80 quilômetros da capital paulista.

Os quadros militantes de todas as regiões do país que participam do curso escutaram da presidenta, recém-eleita, os principais deveres dos comunistas nesta fase de necessário enfrentamento ao consórcio oposicionista da direita que se articula a partir do seu poderio econômico, midiático e institucional e realiza uma intensa ofensiva contra o governo Dilma, as forças progressistas, e contra o Estado de Direito.

A dirigente afirma que poucas vezes esteve tão evidente o embate para tomar o controle sobre o Estado nacional, para que ele se adeque “aos interesses de uma elite pequena, que o entende, apenas, como extensão de suas vontades”. “Vivemos um momento que deixa mais evidente que estamos no poder, mas não temos o poder”, analisou ela, sobre o papel conquistado eleitoralmente pela esquerda.

Luciana lembra que, embora a esquerda e as forças progressistas à frente do governo tenham interrompido a sangria do estado neoliberal, hoje, o consórcio oposicionista faz parecer que o país está sendo dilapidado, criando factoides respaldados pela grande mídia. “FHC foi mais nocivo para o Brasil que Collor, por ter tido apoio para a realização da agenda neoliberal. Tudo que era significativo de patrimônio nacional foi vendido, e conseguimos resistir com muita luta à privatização da Petrobras e do BNDES”, avalia ela. “Foi a época dos grandes escândalos da privatização das telecomunicações”.

Crise mundial

“O Brasil resistiu ao primeiro momento da crise, ao eliminar a dependência do FMI, passando a ter um esteio financeiro que evitou a quebradeira. Tivemos que tomar medidas anticíclicas para manter o emprego, assegurar a produtividade, e manter os programas sociais”.

Apesar da crise mundial, Luciana citou ainda os enormes investimentos mantidos no Brasil pelo governo Dilma, como o Programa de Aceleração do Crescimento, a ampliação de vagas nas universidades e o financiamento estudantil (Fies), o enfrentamento da desigualdade regional, o Programa Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, o relançamento da indústria naval, o estímulo à cadeia produtiva da indústria automobilística, entre outros.

“Com os limites impostos pela crise, o ajuste é uma página que precisamos virar neste segundo mandato da presidenta Dilma”, sentencia ela. A série de medidas tomadas pelo governo para alavancar a economia no contexto da crise, têm seus efeitos mitigados pelos juros altos e cortes orçamentários, que acabam, segundo ela, “secando gelo”.

Aproveitando-se dessa fragilidade econômica e do enfraquecimento do principal partido do governo, Luciana avalia que este é o maior momento de ofensiva do consórcio oposicionista contra o projeto da esquerda e das forças progressistas. “Esta luta política se dá em várias frontes institucionais, como o Judiciário, desde as primeiras instâncias, no Tribunal de Contas, no Tribunal Superior Eleitoral, nos partidos, no Congresso e na mídia, com o massacre do pensamento único ao falar em pedaladas e mentiras contra Dilma”.

Para além da defensiva estratégica vivemos uma defensiva tática, de acordo com a dirigente comunista. “No aparato do estado temos uma ideologia da burguesia que acredita estar ali por mérito”. (…) “Com isso, avança o pensamento que criminaliza a política, por meio da presunção de culpa em vez da presunção da inocência”, diz ela, sobre o modo como tem atuado a Operação Lava Jato.

A necessária contraofensiva

A dirigente fez uma análise conjuntural defendendo a formação de uma ampla aliança de apoio ao governo Dilma e a Constituição. “É preciso disputar a hegemonia do poder político, pois as elites sempre fizeram isso com maestria em influenciar as instâncias para seus objetivos estratégicos”, sinaliza.

Entre os embates possíveis pela frente, Luciana saúda o esforço estratégico de Dilma no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), ao fortalecer um polo de resistência diante do cenário de crise mundial, e fazer contraponto ao imperialismo. A conjuntura internacional também traz notícias favoráveis com a vitória do plebiscito da Grécia contra a austeridade imposta pela União Europeia, embora a luta do povo grego prossiga sem desfecho.

Na análise da líder do PCdoB, vivemos uma luta de classes numa tensa conjuntura, “com uma linha tênue de ódio de classes e uma intolerância que não é característica da construção da nossa nacionalidade”. Para ela, é preciso observar e reagir a isso. “Nunca vi uma eleição com o pensamento conservador tão ousado em sair do armário com sua homofobia, classismo elitista e racismo [contra negros, regionalismos e religião]”, espanta-se. Segundo Luciana, esse clima se expressa abertamente no Congresso Nacional, por meio de votações vitoriosas pela redução da maioridade penal, pelo Estatuto da Família e a terceirização de atividade fim.

Defesa do mandato da presidenta Dilma

“Precisamos tomar a iniciativa política, e nos agarrar a bandeiras progressistas para fazer a contraofensiva”, afirma Luciana. Segundo ela, defender o mandato da presidenta Dilma é a centralidade desta tática, sua luta política central. “A defesa da Constituição e das normas legais é necessária para combater a sensação de estarmos num estado de exceção, em que se prende para coagir sem qualquer base legal”, diz ela, pontuando a estratégia política da oposição neoliberal.

“Há a necessidade de fazer uma frente ampla política, que passe não apenas pela defesa do mandato de Dilma, mas também pela defesa dos direitos dos trabalhadores”, defendeu.

Defesa da Petrobras e da engenharia nacional

A defesa da engenharia nacional e da Petrobras também está no coração de uma estratégia contraofensiva, de acordo com a dirigente. “Por trás dessa operação Lava-Jato, se escondem desejos inconfessos de setores entreguistas que fazem o jogo das multinacionais que querem se apropriar das riquezas de nosso país”, diz ela.

Há ainda medidas de parlamentares da oposição que precisam ser combatidas, disse Luciana ao citar o projeto do senador tucano José Serra, que pretende tirar da Petrobras a condição de operadora única da exploração do pré-sal. “O pré-sal é o filé das descobertas das áreas de óleo e gás; um manancial de riquezas”.

A deputada também citou a manobra do PSDB e de outros partidos da direita no caso das supostas “pedaladas fiscais” do governo Dilma, ora em julgamento no âmbito do Tribunal de Contas da União. Segundo ela, com apoio da mídia, a direita tenta criar na população a desconfiança de que Dilma desrespeita o controle fiscal por meio de manobras contábeis. Segundo Luciana, o governo Dilma está esclarecendo todos os questionamentos do TCU, além do fato de serem expedientes comuns, ao qual recorreram outros governos, e nenhum deles sofreu qualquer condenação por isso.

Mobilização para a manifestação dia 20 de agosto

Luciana também fez uma convocatória de total engajamento do PCdoB e demais forças progressistas na nova rodada da batalha das ruas, prevista para o mês de agosto. No dia 16 de agosto, está prevista uma manifestação de rua puxada pela direita e no dia 20, será a vez das manifestações lideradas pelos movimentos sociais, partidos de esquerda e forças democráticas, tendo como mote “contra o golpe, em defesa da democracia e por mais direitos”.

Luta pelo socialismo

Ao comentar as intervenções dos participantes do curso, Luciana enfatizou que a luta pelo socialismo vai para além do modelo econômico, “uma luta por um novo homem e uma nova mulher”. Ela citou as três lutas de classes em Marx e Engels, ao citar a luta emancipacionista da mulher como uma das formas desse embate, junto com a luta dos trabalhadores e da luta anti-imperialista.

A presidenta considera importante que o movimento social e o PCdoB continuem fortalecendo a denúncia e a crítica dos abusos dos meios de comunicação. “Esta é a frente que mais deteriora e esgarça a disputa política”, afirmou.

Homenagem

Ainda no primeiro dia de abertura do Curso Nacional, houve uma homenagem a Luís Carlos Prestes, com a participação de Maria Prestes (viúva de Prestes), do filho Luís Carlos Prestes Filho e da neta, Ana Prestes. Eles compareceram para o lançamento do filme "A Coluna Prestes atravessa o Brasil, 90 anos depois" e o lançamento do livro-álbum fotográfico sobre a viagem da família ao Rio Grande do Sul.

A presidenta do PCdoB, Luciana Santos, lembrou que na maioria das vezes, a história oficial não faz jus aos heróis e heroínas da luta do povo brasileiro. “Precisamos afirmar os feitos de Luís Carlos Prestes num momento tão adverso. Só gente de muita firmeza, de muita perspectiva e sonhos seria capaz de fazer o que fez Luís Carlos Prestes”, afirmou ela, cumprimentando Maria Prestes pelo testemunho e luta ao lado do Cavaleiro da Esperança, assim como seus filhos que sempre contribuíram para a luta democrática.

Maria Prestes lembrou sua história de lutas pelo ideal comunista, desde criança, quando viu seu pai ser preso e torturado. Falou de seu empenho na luta e as dificuldades que enfrentou pela perseguição implacável a Luiz Carlos Prestes. “Seja firme em suas opiniões, não dê ouvidos a esses alarmes e conversas de traidores e lute com a sua consciência e força de vontade e habilidade, participando e discutindo, porque política a gente faz em qualquer lugar, no ônibus, no supermercado e na rua”, disse ela.

Maria se emocionou ao mencionar as homenagens que seu companheiro recebe, frequentemente, pelo papel dramático que teve na história do país. “Seu nome é respeitado, honrado, e, com dignidade, porque ele, até a sua morte, defendeu os seus ideais com firmeza, caráter, e nunca se vendeu”, exclamou ela.

Curso nacional

Promovido anualmente pela Secretaria de Formação, através da Escola Nacional de Formação João Amazonas, o curso é um intensivo voltado para os quadros e militantes que examinam, com profundidade as formulações teóricas do Partido.