Cláudio Mota : Ajustar discurso na crise, evitar crise no discurso

Nesse momento de turbulência política no Brasil, observamos grande ofensiva da oposição e da grande mídia, limitações do governo em sua comunicação e dificuldades dos movimentos sociais em contrapor ideias avançadas às ideias conservadoras.

Por Cláudio Mota*

dilma e lula

Destacam-se duas questões essenciais na luta de classes, expressa na luta ideias: 1) Essa é fortemente travada pelos meios de comunicação e mediadas por eles, por onde si dá massivamente a (desin)formação de opiniões pela população e; 2) o poder da palavra e do argumento na luta pela hegemonia na sociedade.

Na batalha de discursos sobre a avaliação da realidade, causas da crise e a saída dela, governo e movimentos sociais organizados enfrentam o desafio de vencer a guerra da informação. A luta política se expressa de diversas formas, especialmente pelo discurso, seja através da mídia ou em uma assembleia de trabalhadores, por exemplo. Afinal, o objetivo é convencer pessoas de qual melhor caminho devemos seguir.

Para o filósofo francês Michel Foucault, o discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou um sistema de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder do qual procuramos nos apoderar. É nesse contexto que analisamos o embate entre governo (e aliados) e oposição (com apoio da grande mídia).

Por traz do que se fala, há uma construção ideológica da verdade dos fatos e fenômenos sociais, econômicos, políticos e culturais. Assim, é primordial ajustar (e mostrar mais) o discurso nesse momento de crise, considerando que ele é construído coletivamente. Ele deve refletir uma visão de País a partir das políticas, e seus resultados positivos, iniciadas por Lula e sequenciadas por Dilma.

Hegemonia

Nessa batalha, o que está em jogo é quem estabelece a hegemonia na sociedade. Nada melhor do que resgatar a contribuição do marxista italiano Antonio Gramsci, que considera fundamental pensar como nas relações sociais se desenvolvem as disputas hegemônicas. Ele considera necessário “ampliar a base social da classe fundamental e analisar a correlação de forças na disputa pela hegemonia”. Boa indicação para o governo: agir para não perder a base (política e social) que lhe apoia e ampliá-la em torno de bandeiras avançadas para garantir maioria, no Congresso e na sociedade.

Para Gramsci, é essencial não desprezar a importância da direção cultural e ideológica na formulação de uma nova concepção de sociedade. Segundo ele, a concepção do mundo imposta mecanicamente pelo ambiente exterior é desprovida de consciência crítica, que só se forma na disputa de hegemonias contrárias. Outra ideia: Ao lado de medidas estruturantes e profundas, um governo como o nosso deve trabalhar na construção de uma nova cultura, que ajude a quem mais foi beneficiado pelas ações governamentais a desenvolver uma consciência crítica para defendê-las.

Cabe ao governo irradiar esse movimento, estimulando os movimentos sociais a ampliá-lo, construindo assim uma vontade coletiva identificada com o projeto em curso e capaz de não cair nas armadilhas das elites.

Argumentos

Todo bom discurso precisa estar ancorado em um contexto que lhe favoreça e deve ser claro. O cenário atual do Brasil se coloca como desafiador. Só com ações e discurso é possível criar uma motivação coletiva em torno de algo que as pessoas considerem importante para suas vidas. É hora de elevar o nível de participação e comprometimento delas com o projeto.

Assim, melhorar a comunicação é fundamental. Deve-se resgatar os números positivos do governo e dados são poderosos argumentos. Pode-se ver, por exemplo, que o PIB no governo Dilma em 2014 foi de R$ 5,521 trilhões, bem maior que o melhor índice do governo Lula (em 2010), de R$ 3.887 trilhões, e quase quatro vezes maior que o PIB de Fernando Henrique (2002), que foi de R$ 1.491 trilhão.

A geração de mais de 20 milhões de empregos nos governos de Lula e Dilma ajudou a segurar o impacto do desemprego, que está em pouco mais de 8% da População Economicamente Ativa (PEA). Aliás, ele caiu de 12,3% (governo FHC, 2002) para 6,8% em 2010 (final do segundo governo Lula), e para 4,8% com Dilma em 2014.

O governo pode usar dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revelando que a desigualdade social nos governos tucanos caiu apenas 2,2%, enquanto que, nos governos petistas, decresceu 11,4%. Que 38 milhões de pessoas ascenderam à nova classe média e 42 milhões de brasileiros saíram da miséria. Que a taxa de pobreza (segundo o Washington Post) em 2002 era 34%, ante 15% em 2012.

Dizem que um bom argumento oferece razões para as pessoas formarem uma opinião mais de conjunto dos fenômenos.

Discurso sindical 

Nos movimentos sociais, o sindicalismo joga papel preponderante nessa guerra da informação, pela estrutura que possuem as entidades e pelo que representam politicamente na sociedade.

Seja nos instrumentos de comunicação ou em assembleias e manifestações, é necessário combinar a crítica às medidas restritivas do ministro da Fazenda, Joaquim Levi, sempre resgatando os números positivos do governo. Não basta apenas falar do aumento do desemprego. É essencial mostrar que o melhor caminho é justamente na linha do que foi iniciado por Lula e sequenciado por Dilma no primeiro mandato.

É preciso enfatizar que o governo fez esse movimento regressivo pressionado pelo mercado financeiro, que aproveita o momento difícil para ampliar seus lucros exigindo medidas como a elevação da taxa de juros e um forte ajuste fiscal, que não ajudam o setor produtivo, mas beneficiam mais quem vive da especulação financeira: os bancos.

Em momentos difíceis, é importante ajustar o discurso na crise e evitar a crise no discurso para sair da defensiva e mostrar que o melhor caminho é com esse projeto, corrigindo os erros e avançando em mais conquistas.

*Cláudio Mota é Jornalista, publicitário e responsável pelo blogue Axé com Dendê